São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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Não dá para entender

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Padre Cipriano tinha três doutorados em Roma. Quando voltou para o Brasil, o cardeal colocou-o como capelão de uma universidade, seria o sacerdote ideal para apascentar as ovelhas intelectualizadas do Rio daquela época.
Eu o conheci de batina arregaçada, jogando pelada com operários num subúrbio. Mais tarde, foi para o seminário, onde exerceu funções humildes, inventava coisas inúteis e pobres para nos distrair. Já na fase adulta, um dia perguntei-lhe por que fizera aquela opção, deixando a vida acadêmica.
Ele me respondeu, obviamente sem citar nomes. No confessionário, um sujeito contou-lhe que largara a mulher na primeira semana após o casamento. Motivo: a mulher, também intelectual, o traíra com um vizinho. Padre Cipriano, que entendia quase tudo da filosofia ocidental, não entendeu aquilo. Pediu dispensa e foi jogar pelada com operários.
Lembro essa história por causa do novo ministério de FHC -o ministério de verdade, do desenvolvimento com estabilidade, o ministério mais-que-perfeito dos tucanos. Em menos de um mês temos o saco de gatos que aí está.
O núcleo desse ministério e do próprio governo é a equipe econômica, cujo chefe está sendo contestado abertamente por correligionários -inclusive um ex-ministro do mesmo partido do presidente. E pelo aliado mais poderoso de FHC -que apesar dos pesares continua sendo ACM.
A comparação pode ser complicada. Mas parece mesmo com o caso que fez padre Cipriano tirar seus anéis de doutor da Gregoriana e fazer, nos fundos do seminário, uma gruta de Nossa Senhora com umas pedras que ele roubou de uma obra vizinha.


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