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Não dá para entender
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Padre Cipriano tinha três doutorados em Roma. Quando voltou para o Brasil, o cardeal colocou-o como capelão de uma universidade, seria o sacerdote ideal para
apascentar as ovelhas intelectualizadas do Rio daquela época.
Eu o conheci de batina arregaçada,
jogando pelada com operários num
subúrbio. Mais tarde, foi para o seminário, onde exerceu funções humildes,
inventava coisas inúteis e pobres para
nos distrair. Já na fase adulta, um dia
perguntei-lhe por que fizera aquela
opção, deixando a vida acadêmica.
Ele me respondeu, obviamente sem
citar nomes. No confessionário, um
sujeito contou-lhe que largara a mulher na primeira semana após o casamento. Motivo: a mulher, também intelectual, o traíra com um vizinho. Padre Cipriano, que entendia quase tudo
da filosofia ocidental, não entendeu
aquilo. Pediu dispensa e foi jogar pelada com operários.
Lembro essa história por causa do
novo ministério de FHC -o ministério de verdade, do desenvolvimento
com estabilidade, o ministério mais-que-perfeito dos tucanos. Em menos
de um mês temos o saco de gatos que
aí está.
O núcleo desse ministério e do próprio governo é a equipe econômica,
cujo chefe está sendo contestado abertamente por correligionários -inclusive um ex-ministro do mesmo partido do presidente. E pelo aliado mais
poderoso de FHC -que apesar dos
pesares continua sendo ACM.
A comparação pode ser complicada.
Mas parece mesmo com o caso que fez
padre Cipriano tirar seus anéis de
doutor da Gregoriana e fazer, nos fundos do seminário, uma gruta de Nossa
Senhora com umas pedras que ele roubou de uma obra vizinha.
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