São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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FHC corre o risco de perder, no Congresso, o apoio às reformas no 2º semestre?

NÃO
Queremos polêmica

ARTHUR VIRGÍLIO NETO

Não vejo assim. Os partidos aliados acabam de reafirmar sua solidariedade ao ministro Pedro Malan, à política econômica consequente e corajosa em curso e à agenda de reformas sugerida pelo presidente da República.
Vamos ser francos: ingovernabilidade verdadeira o país terminaria por conhecer se Fernando Henrique enveredasse pelo caminho do populismo, adiando as mudanças, há 20 anos necessárias, em busca de popularidade efêmera e mentirosa.
Começo, então, pelo reconhecimento de que o governo está impopular; e afirmo que foi precisamente o atraso no processo reformador a agravar as dificuldades que hoje vivemos.
Dou como exemplo a necessidade de aprofundamento da reforma da Previdência: em 1999, a soma dos benefícios pagos via INSS e aos inativos e pensionistas dos níveis federal, estadual e municipal exigirá recursos de R$ 100 bilhões, contra uma arrecadação de R$ 55 bilhões. Resultado: déficit de R$ 45 bilhões, equivalente a três vezes o custeio da saúde e seis vezes o investimento do governo federal.
Se algum alienado, do tipo que está surpreso com o fato de o mundo não ter acabado, achar pouco, acrescentarei a esse montante os juros relativos aos papéis que financiam o "buraco". Consequência: políticas sociais menos robustas, menos dinheiro para a segurança, menos meios para reduzir as desigualdades.
Desses R$ 45 bilhões, R$ 10 bilhões representarão a parte do INSS, R$ 15 bilhões significarão a cota negativa de Estados e municípios e R$ 20 bilhões corresponderão a apenas 900 mil servidores públicos federais, uma minoria dos quais percebendo proventos de mandarins.
Daí o governo não querer evitar a polêmica, se o risco de desmascaramento é corrido por quem aposta na falácia da falsa proteção aos idosos ou na acusação pérfida de que Fernando Henrique não teria sensibilidade social.
O Brasil já despende 21% do seu PIB na área social. Aí está o Brasil do interior, explodindo de futuro. Eis aí o Comunidade Solidária, reduzindo drasticamente a mortalidade infantil nos 3.000 municípios mais desvalidos. Ou os 8 milhões de beneficiários da Previdência rural, que, sem nenhuma contribuição ao sistema, conformam um dos maiores programas de renda mínima do planeta. Ou 96% das crianças entre 7 e 14 anos em sala de aula.
A solução definitiva, entretanto, vem da conclusão das reformas, da consolidação da estabilidade, do cumprimento das metas inflacionárias, de um balanço de pagamentos sustentável, da redução (ainda maior) das taxas de juros. Ela vem do sonho sublime de uma nação justa para com os seus filhos, nunca do delírio de quem imagina que se derrota o Estado arcaico sem dor, como num passe de mágica.
O cenário político não é o ideal. E não é possível dissociar economia de política. A solução da economia, portanto, passa fortemente pela solução das dificuldades políticas.
O Congresso Nacional, que tem votado mudanças importantes, haverá de fazer mais. Ele ajudou na crise asiática e fez o mesmo na crise russa. Não negará fogo na hora de evitar a grande crise brasileira.
Não é hora de sectarismos. Terra arrasada não interessa nem à parte mais sóbria e futurosa das oposições. Terra arrasada interessa a aventureiros, a messiânicos, a salvacionistas.
O Brasil está em jogo. Vamos ajudar a defendê-lo com unhas e dentes.


Arthur Virgílio Neto, 53, é deputado federal pelo PSDB-AM e líder do governo no Congresso Nacional. Foi vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados (1995-96) e prefeito de Manaus (1989-93).



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