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FHC corre o risco de perder, no Congresso, o apoio às reformas no 2º semestre?
NÃO
Queremos polêmica
ARTHUR VIRGÍLIO NETO
Não vejo assim. Os partidos aliados
acabam de reafirmar sua solidariedade
ao ministro Pedro Malan, à política
econômica consequente e corajosa em
curso e à agenda de reformas sugerida
pelo presidente da República.
Vamos ser francos: ingovernabilidade verdadeira o país terminaria por conhecer se Fernando Henrique enveredasse pelo caminho do populismo,
adiando as mudanças, há 20 anos necessárias, em busca de popularidade
efêmera e mentirosa.
Começo, então, pelo reconhecimento de que o governo está impopular; e
afirmo que foi precisamente o atraso
no processo reformador a agravar as
dificuldades que hoje vivemos.
Dou como exemplo a necessidade de
aprofundamento da reforma da Previdência: em 1999, a soma dos benefícios
pagos via INSS e aos inativos e pensionistas dos níveis federal, estadual e
municipal exigirá recursos de R$ 100
bilhões, contra uma arrecadação de R$
55 bilhões. Resultado: déficit de R$ 45
bilhões, equivalente a três vezes o custeio da saúde e seis vezes o investimento do governo federal.
Se algum alienado, do tipo que está
surpreso com o fato de o mundo não
ter acabado, achar pouco, acrescentarei a esse montante os juros relativos
aos papéis que financiam o "buraco".
Consequência: políticas sociais menos
robustas, menos dinheiro para a segurança, menos meios para reduzir as
desigualdades.
Desses R$ 45 bilhões, R$ 10 bilhões
representarão a parte do INSS, R$ 15
bilhões significarão a cota negativa de
Estados e municípios e R$ 20 bilhões
corresponderão a apenas 900 mil servidores públicos federais, uma minoria dos quais percebendo proventos de
mandarins.
Daí o governo não querer evitar a polêmica, se o risco de desmascaramento
é corrido por quem aposta na falácia
da falsa proteção aos idosos ou na acusação pérfida de que Fernando Henrique não teria sensibilidade social.
O Brasil já despende 21% do seu PIB
na área social. Aí está o Brasil do interior, explodindo de futuro. Eis aí o Comunidade Solidária, reduzindo drasticamente a mortalidade infantil nos
3.000 municípios mais desvalidos. Ou
os 8 milhões de beneficiários da Previdência rural, que, sem nenhuma contribuição ao sistema, conformam um
dos maiores programas de renda mínima do planeta. Ou 96% das crianças
entre 7 e 14 anos em sala de aula.
A solução definitiva, entretanto, vem
da conclusão das reformas, da consolidação da estabilidade, do cumprimento das metas inflacionárias, de um balanço de pagamentos sustentável, da
redução (ainda maior) das taxas de juros. Ela vem do sonho sublime de uma
nação justa para com os seus filhos,
nunca do delírio de quem imagina que
se derrota o Estado arcaico sem dor,
como num passe de mágica.
O cenário político não é o ideal. E
não é possível dissociar economia de
política. A solução da economia, portanto, passa fortemente pela solução
das dificuldades políticas.
O Congresso Nacional, que tem votado mudanças importantes, haverá
de fazer mais. Ele ajudou na crise asiática e fez o mesmo na crise russa. Não
negará fogo na hora de evitar a grande
crise brasileira.
Não é hora de sectarismos. Terra arrasada não interessa nem à parte mais
sóbria e futurosa das oposições. Terra
arrasada interessa a aventureiros, a
messiânicos, a salvacionistas.
O Brasil está em jogo. Vamos ajudar
a defendê-lo com unhas e dentes.
Arthur Virgílio Neto, 53, é deputado federal pelo
PSDB-AM e líder do governo no Congresso Nacional.
Foi vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados
(1995-96) e prefeito de Manaus (1989-93).
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