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Ainda a torre do Masp
ADIB D. JATENE
Que não se percam contribuições tão valiosas e capazes de resolver os problemas financeiros
de que o museu padece
NO DIA 24/2, publiquei artigo
neste espaço sobre a torre do
Masp contrapondo argumentos à decisão do Conpresp (Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que vetou
a construção de tal torre.
Não houve então, da parte do professor Lefèvre, presidente daquele
conselho, nenhuma manifestação, a
qual só veio depois que publiquei outro artigo, no dia 12/7. O professor fazia referência às restrições que ocorreram à época da construção da torre
Eiffel. Assinalava que, se existisse um
órgão com poder de veto, talvez a torre não tivesse sido construída.
Entendo que essa referência tenha
levado Lefèvre a me honrar com a réplica, o que me obriga, pelo respeito
que sua figura merece, a corrigir alguns detalhes que, sem contestação,
poderiam parecer verdadeiros e desqualificar minhas colocações.
Em primeiro lugar, ficou difícil entender a oposição de que a torre descaracterizaria o bem tombado (o edifício sede do museu) e, ao mesmo
tempo, a concordância com a substituição do edifício Dumont-Adams
por um outro de proporções equivalentes aos demais existentes na avenida Paulista, com seus edifícios de
mais de 100 metros de altura e antenas que ultrapassam os 200 metros.
Em segundo lugar, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em setembro de 2004,
tombou o edifício-sede do Masp, estabelecendo como limite de sua abrangência a área compreendida nas vias
circundantes e liberando textualmente de qualquer restrição todos os
lotes particulares localizados nas faces opostas dessas vias. Por consulta
específica do Masp sobre as restrições, o referido instituto confirmou
inexistirem restrições de altura, de
volumetria ou de acabamentos externos em relação à realização de obras
dentro dos limites do lote indicado.
Em terceiro lugar, quanto à sugestão de não audiência do plenário do
Condephaat (Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico), com a aprovação só do presidente, cabe um comentário, pois fica implícita a idéia de que
a ele faltariam poderes para tal aprovação, o que não é verdade. Quatro
meses depois da referida aprovação, o
plenário do órgão apreciou e aprovou
a construção de uma antena sobre a
cobertura da torre que o Masp pretende construir, o que, obviamente,
significa que o plenário homologou a
aprovação do presidente do órgão.
Importa salientar que, na audiência
que o Conpresp concedeu à diretoria
do Masp quando o assunto da antena
foi abordado, o presidente do Masp
não "negou a existência de tal projeto", mas comunicou que a direção do
museu havia decidido desistir em definitivo da colocação da antena.
Em quarto lugar, em nenhum momento a direção do Masp afirmou que
a operação do mirante "pagaria a
construção da torre". O que sempre se
disse foi que não só a aquisição do
prédio localizado na quadra vizinha
ao museu mas também a reforma para abrigar a parte administrativa, a escola de arte do museu e a construção
da torre já tinham patrocínios da iniciativa privada, sem recorrer à Lei
Rouanet ou a qualquer tipo de incentivo fiscal, da ordem de R$ 20 milhões, algo inédito na área da cultura
-e estamos fazendo todo o esforço
para não perder doações de tal monta.
Assim que terminar, a operação do
mirante, aplaudido pela área do turismo, bem como a reforma do prédio
para abrigar a escola de arte no edifício, além de não causar nenhum dispêndio financeiro por parte da Masp,
deverá gerar receitas para o museu, as
quais serão destinadas à manutenção
de suas atuais e futuras necessidades.
Não posso deixar de me referir ao
trecho destacado pelo editor: "O que
diriam os parisienses se, por hipótese,
a torre Eiffel mudasse seu nome para
Eiffel-Telecom, com um enorme
anúncio luminoso?". Não consegui
evitar a idéia de que talvez essa fosse a
principal preocupação de Lefèvre e
seus companheiros do Conpresp.
Tal comparação, no meu entendimento, não cabe, pois, no caso, não estamos propondo obras sobre bens
tombados, como são o edifício-sede
do Masp e a torre Eiffel, mas apenas a
construção de uma torre sobre um
edifício não tombado, pertencente ao
Masp e que poderia estar localizado
em qualquer ponto da av. Paulista.
Para concluir, reitero que minha
manifestação representa o direito ao
contraditório, com o maior respeito
por opiniões que não coincidam com
a minha, e um apelo para que, em período tão difícil para a captação de recursos, não se percam contribuições
tão valiosas e capazes de resolver os
problemas financeiros de que o museu vem padecendo há muito tempo,
bem como a adequação dos espaços e
a expansão de suas atividades.
ADIB D. JATENE, 77, cardiologista, professor emérito da
Faculdade de Medicina da USP, é presidente do Conselho
Deliberativo do Masp.
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