São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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VALDO CRUZ

Ingratidão

BRASÍLIA - O nome do maior aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros, tem quatro letras, uma força incomen$urável e já ajudou muita gente. Não, não se trata do presidente Lula, mas de algo que o levou a usar a mão pesada do governo para salvar o peemedebista.
Esse grande trunfo renanzista atende pela alcunha de CPMF, mais conhecido como imposto do cheque. Rende montanhas de dinheiro ao governo e banca boa parte da saúde pública brasileira -ainda uma temeridade, apesar dos esforços do ministro Temporão.
Não fosse a necessidade do governo Lula de prorrogar a CPMF, talvez Renan estivesse hoje tomando o rumo de Alagoas para lá ficar. Mas não, o governo corre contra o tempo e precisa aprovar, até o final do ano, a sobrevida da contribuição.
Seria um grande risco desencadear agora uma sucessão no Senado, de resultado imprevisto, podendo colocar em perigo o imposto que enche os cofres da União com mais de R$ 39 bilhões por ano.
Só deu uma mãozinha a mais a Renan o fato de a oposição ter colocado o carro à frente dos bois e, antes mesmo de destroná-lo, ter começado a vetar esse e aquele nome governista para sucedê-lo.
Acendeu de vez a luz amarela no Palácio do Planalto, temeroso de a cadeira de Renan cair nas mãos de alguém não tão submisso assim a seus desejos. Foi o empurrão final para Lula e o PT acionarem seu rolo compressor e dar uma sobrevida ao peemedebista.
Lula espera agora a retribuição de Renan. Seu desejo mais íntimo é que o presidente do Senado faça as malas e rume para alguma praia deserta, desaparecendo do Senado até o final do ano, deixando o plenário livre para aprovar a prorrogação da CPMF.
Depois disso, adeus sofrimento. Nada mais de fundamental para o governo terá de passar pelas mãos dos senadores. Falta combinar com o alagoano, que ainda resiste. E, se ele bater o pé, ironia do destino, o senador pode sepultar aquele que o salvou.


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