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VALDO CRUZ
Ingratidão
BRASÍLIA - O nome do maior aliado do presidente do Senado, Renan
Calheiros, tem quatro letras, uma
força incomen$urável e já ajudou
muita gente. Não, não se trata do
presidente Lula, mas de algo que o
levou a usar a mão pesada do governo para salvar o peemedebista.
Esse grande trunfo renanzista
atende pela alcunha de CPMF, mais
conhecido como imposto do cheque. Rende montanhas de dinheiro
ao governo e banca boa parte da
saúde pública brasileira -ainda
uma temeridade, apesar dos esforços do ministro Temporão.
Não fosse a necessidade do governo Lula de prorrogar a CPMF, talvez Renan estivesse hoje tomando
o rumo de Alagoas para lá ficar. Mas
não, o governo corre contra o tempo e precisa aprovar, até o final do
ano, a sobrevida da contribuição.
Seria um grande risco desencadear agora uma sucessão no Senado, de resultado imprevisto, podendo colocar em perigo o imposto que
enche os cofres da União com mais
de R$ 39 bilhões por ano.
Só deu uma mãozinha a mais a
Renan o fato de a oposição ter colocado o carro à frente dos bois e, antes mesmo de destroná-lo, ter começado a vetar esse e aquele nome
governista para sucedê-lo.
Acendeu de vez a luz amarela no
Palácio do Planalto, temeroso de a
cadeira de Renan cair nas mãos de
alguém não tão submisso assim a
seus desejos. Foi o empurrão final
para Lula e o PT acionarem seu rolo
compressor e dar uma sobrevida ao
peemedebista.
Lula espera agora a retribuição
de Renan. Seu desejo mais íntimo é
que o presidente do Senado faça as
malas e rume para alguma praia deserta, desaparecendo do Senado até
o final do ano, deixando o plenário
livre para aprovar a prorrogação da
CPMF.
Depois disso, adeus sofrimento.
Nada mais de fundamental para o
governo terá de passar pelas mãos
dos senadores. Falta combinar com
o alagoano, que ainda resiste. E, se
ele bater o pé, ironia do destino, o
senador pode sepultar aquele que o
salvou.
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