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JOSÉ SARNEY
Descendo a ladeira
SETEMBRO, 11, uma lembrança
amarga. Pela tragédia, pela
brutalidade, pelos que morreram, pelos que sofrem. E pelas conseqüências desestabilizadoras para
o mundo. O presidente Bush não
viu o episódio em sua dimensão
universal. Encarou-o com uma visão de vingança e truculência.
Nunca na história americana a
leitura de uma agressão foi tão
equivocada. Roosevelt utilizou
Pearl Harbor para salvar o mundo.
Seu país saiu mais forte do conflito,
o maior líder mundial, pólo de poder capaz de resistir à ideologia comunista, salvar o mundo da guerra
nuclear e fazer desintegrar a União
Soviética.
O ataque de 11 de setembro recebeu a solidariedade unânime internacional. Era a hora de Bush reunir
todo o mundo sob sua liderança
numa cruzada de cooperação para
enfrentar o terrorismo, inimigo da
humanidade.
Ao contrário de uma visão de estadista, Bush reagiu para legitimar-se de uma eleição decidida pela Suprema Corte e sair para uma guerra de revide contra o Iraque para
eliminar Saddam Hussein. Seu pai
não cedeu a essa sedução na Guerra do Golfo.
O Iraque nada tinha a ver com o
11 de Setembro e transformou-se
numa guerra insolúvel, cujo fim
não aparece.
Resultado: os Estados Unidos
perderam milhares de jovens vidas, desmoralizaram-se nas torturas de suas prisões, rasgando uma
de suas bandeiras fundamentais, a
dos direitos humanos. Gastaram
trilhões e ainda vão gastar outros
trilhões. Desgastados, ressuscitaram a Rússia, que, no vácuo das
vulnerabilidades, reinicia uma nova Guerra Fria. A China aproveitou-se e, em breve, dividirá com os
EUA a hegemonia do poder mundial. A Europa, aliada, dividiu-se.
Rolou a cabeça de seu estado-maior, Durão Barroso, Aznar, Berlusconi e Blair. A opinião mundial
posicionou-se contra os EUA.
O senador republicano, aliado de
Bush, Richard Lugar, resumiu bem
o momento em que vivem os Estados Unidos: "A essa altura, com
nosso exército desgastado por causa da Guerra do Iraque, nossos ganhos globais freados por causa do
fardo do Iraque, que o governo não
nos peça paciência!".
O dólar enfraqueceu-se, a crise
financeira dos fundos especulativos e outros problemas econômicos internos crescem. Bush tem
seu prestígio em níveis baixíssimos, e a população americana revolta-se e pede cada vez mais uma
paz que se torna distante.
Bush recebeu os Estados Unidos
no maior esplendor de sua glória e
rememora o 11 de Setembro em um
declínio humilhante.
Será que, por uma ironia trágica,
o fanático louco Bin Laden alcançou o seu objetivo? Isso não pode
ocorrer.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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