São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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JOSÉ SARNEY

Descendo a ladeira

SETEMBRO, 11, uma lembrança amarga. Pela tragédia, pela brutalidade, pelos que morreram, pelos que sofrem. E pelas conseqüências desestabilizadoras para o mundo. O presidente Bush não viu o episódio em sua dimensão universal. Encarou-o com uma visão de vingança e truculência.
Nunca na história americana a leitura de uma agressão foi tão equivocada. Roosevelt utilizou Pearl Harbor para salvar o mundo.
Seu país saiu mais forte do conflito, o maior líder mundial, pólo de poder capaz de resistir à ideologia comunista, salvar o mundo da guerra nuclear e fazer desintegrar a União Soviética.
O ataque de 11 de setembro recebeu a solidariedade unânime internacional. Era a hora de Bush reunir todo o mundo sob sua liderança numa cruzada de cooperação para enfrentar o terrorismo, inimigo da humanidade.
Ao contrário de uma visão de estadista, Bush reagiu para legitimar-se de uma eleição decidida pela Suprema Corte e sair para uma guerra de revide contra o Iraque para eliminar Saddam Hussein. Seu pai não cedeu a essa sedução na Guerra do Golfo.
O Iraque nada tinha a ver com o 11 de Setembro e transformou-se numa guerra insolúvel, cujo fim não aparece.
Resultado: os Estados Unidos perderam milhares de jovens vidas, desmoralizaram-se nas torturas de suas prisões, rasgando uma de suas bandeiras fundamentais, a dos direitos humanos. Gastaram trilhões e ainda vão gastar outros trilhões. Desgastados, ressuscitaram a Rússia, que, no vácuo das vulnerabilidades, reinicia uma nova Guerra Fria. A China aproveitou-se e, em breve, dividirá com os EUA a hegemonia do poder mundial. A Europa, aliada, dividiu-se.
Rolou a cabeça de seu estado-maior, Durão Barroso, Aznar, Berlusconi e Blair. A opinião mundial posicionou-se contra os EUA. O senador republicano, aliado de Bush, Richard Lugar, resumiu bem o momento em que vivem os Estados Unidos: "A essa altura, com nosso exército desgastado por causa da Guerra do Iraque, nossos ganhos globais freados por causa do fardo do Iraque, que o governo não nos peça paciência!".
O dólar enfraqueceu-se, a crise financeira dos fundos especulativos e outros problemas econômicos internos crescem. Bush tem seu prestígio em níveis baixíssimos, e a população americana revolta-se e pede cada vez mais uma paz que se torna distante.
Bush recebeu os Estados Unidos no maior esplendor de sua glória e rememora o 11 de Setembro em um declínio humilhante.
Será que, por uma ironia trágica, o fanático louco Bin Laden alcançou o seu objetivo? Isso não pode ocorrer.


jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY
escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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