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RUMOS DO AJUSTE
Seja quem for o vencedor nas
eleições presidenciais de 27 de
outubro de 2002, a economia brasileira em 2003 está condenada a continuar a batalha para superar a crise do
balanço de pagamentos. Dependendo da linha de crédito aberta junto ao
FMI, a política econômica brasileira
dificilmente será expansiva no médio
prazo (próximos 6 a 12 meses).
A restrição externa dita o ajuste,
pois o FMI exige cortes de gastos públicos e contenção da atividade econômica para supostamente salvaguardar a solvência externa.
Além do FMI, a oferta de crédito
nos mercados internacionais está deprimida acima de tudo como expressão da crise de confiança que atingiu
o coração do sistema, os mercados
financeiros de Nova York.
O modelo de abertura externa e de
liberalização, no entanto, parece irremediavelmente desprestigiado.
Fala-se em novas agendas que
substituam o Consenso de Washington, ainda que retendo valores como
qualidade da gestão pública, competitividade e estabilidade de preços.
A lista de processos de estabilização questionados ganha mais um caso. Resta saber quais serão as mudanças na política econômica, nos
próximos anos, ainda que o país não
esteja condenado à ruptura total com
o modelo anterior e esteja obrigado a
seguir parâmetros muito estritos em
2003, sob a vigilância do FMI.
A questão já não é a de recorrer ou
não ao Fundo, mas sim a de criar
condições para definir como e quando será possível sair dessa UTI.
Ou seja, o ajuste é inevitável, mas os
rumos desse ajuste podem variar.
Nos últimos anos, por exemplo, o
governo FHC aprofundou continuamente a dependência financeira do
capital externo, tornando inevitável
não apenas a ida ao FMI, mas também o retorno periódico a essa organização multilateral que ao menos
em princípio zela pela estabilidade
dos países em desenvolvimento.
O futuro governo precisará cumprir o acordo com o Fundo se quiser
escapar de uma crise de confiança
que leve à ruptura com o padrão de liberdade de capitais que vigora no sistema financeiro internacional.
Ao mesmo tempo, é preciso fazer
do ajuste fiscal e monetário uma
oportunidade para criar políticas
sustentáveis de competitividade, gestão de recursos públicos e refinanciamento nos mercados internacionais.
O próximo presidente terá, portanto, um duplo desafio: continuar a fazer um forte ajuste econômico no
curtíssimo prazo e, ao mesmo tempo, dar-lhe um rumo sustentável.
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