São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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CAUTELA COM OS JUROS

O s resultados recentes dos índices de preços ficaram acima das projeções mais pessimistas. Volta-se a falar em aumento da taxa de juros básica como a forma de o BC responder à alta da inflação -começando, talvez, já em sua reunião da próxima quarta-feira, dia 20. Cabe questionar a conveniência de adotar essa resposta "padrão" no contexto específico de hoje.
A disparada dos preços tem como causa principal a alta do dólar. Diante do fechamento do crédito externo, elevar os juros pouco contribuiria para atrair dólares e derrubar a sua cotação. Outro fator que tem reforçado a inflação é a elevação rápida das cotações internacionais de muitas "commodities" agropecuárias; elevar os juros também não seria resposta eficiente a essa pressão.
A inflação sobe devido a choques de custos. A demanda segue fraca e não pressiona os preços. Os salários e a maioria dos preços -com a exceção notável dos serviços públicos- continuam desindexados. Não há um quadro de realimentação inflacionária. Sem isso, a alta da inflação poderá se revelar transitória.
Mas o quadro pode mudar, tornando a redução da inflação mais custosa e demorada. Administrar as expectativas será um desafio central para evitar essa mudança indesejável.
O nervosismo do mercado financeiro refluiu um pouco, mas segue grande. Chega-se a situações em que a alta da inflação, ao agravar o nervosismo, pressiona o dólar e ameaça criar um círculo vicioso.
Aumentar os juros é uma opção provavelmente pouco eficaz e certamente custosa, pois oneraria os devedores e reduziria a atividade econômica e a receita de impostos. Cumprir as metas fiscais ficaria muito mais difícil, criando o risco de perigosos impasses com o FMI.
O BC aproveitou a redução do nervosismo após as eleições para limitar a venda de dólares à vista. Agora que o nervosismo ameaça subir de novo, pode ser o momento de retomar vendas mais fortes, para pôr água na fervura do mercado cambial e das expectativas de inflação.


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