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CAUTELA COM OS JUROS
O s resultados recentes dos
índices de preços ficaram acima das projeções mais pessimistas.
Volta-se a falar em aumento da taxa
de juros básica como a forma de o BC
responder à alta da inflação -começando, talvez, já em sua reunião da
próxima quarta-feira, dia 20. Cabe
questionar a conveniência de adotar
essa resposta "padrão" no contexto
específico de hoje.
A disparada dos preços tem como
causa principal a alta do dólar. Diante do fechamento do crédito externo,
elevar os juros pouco contribuiria para atrair dólares e derrubar a sua cotação. Outro fator que tem reforçado
a inflação é a elevação rápida das cotações internacionais de muitas
"commodities" agropecuárias; elevar os juros também não seria resposta eficiente a essa pressão.
A inflação sobe devido a choques
de custos. A demanda segue fraca e
não pressiona os preços. Os salários
e a maioria dos preços -com a exceção notável dos serviços públicos-
continuam desindexados. Não há
um quadro de realimentação inflacionária. Sem isso, a alta da inflação
poderá se revelar transitória.
Mas o quadro pode mudar, tornando a redução da inflação mais custosa e demorada. Administrar as expectativas será um desafio central para evitar essa mudança indesejável.
O nervosismo do mercado financeiro refluiu um pouco, mas segue
grande. Chega-se a situações em que
a alta da inflação, ao agravar o nervosismo, pressiona o dólar e ameaça
criar um círculo vicioso.
Aumentar os juros é uma opção
provavelmente pouco eficaz e certamente custosa, pois oneraria os devedores e reduziria a atividade econômica e a receita de impostos. Cumprir as metas fiscais ficaria muito
mais difícil, criando o risco de perigosos impasses com o FMI.
O BC aproveitou a redução do nervosismo após as eleições para limitar
a venda de dólares à vista. Agora que
o nervosismo ameaça subir de novo,
pode ser o momento de retomar vendas mais fortes, para pôr água na fervura do mercado cambial e das expectativas de inflação.
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