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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula no céu
SÃO PAULO - A revista "Forbes"
incluiu Lula na sua lista das pessoas
mais poderosas do mundo. O presidente brasileiro aparece na 33ª posição, por coincidência a idade de
Cristo. A tolice que cerca esse tipo
de ranking costuma ser imensa,
mas este, além disso, é infamante.
Osama bin Laden, líder da Al
Qaeda, está quatro posições atrás,
em 37º, e o traficante Joaquin Guzmán, criminoso mais procurado do
México, vem em 40º. Lula, obviamente, não merece tais companhias. Nem o 1º lugar destinado a
Barack Obama é capaz de aplacar o
vexame do conjunto. Petistas, no
entanto, festejam a "Forbes" por aí.
A revista "The Economist" desta
semana também nos rende homenagens, como fez há pouco o "Financial Times", a outra bíblia dos
mercados. "Brasil decola", diz a capa da publicação, que dedica 14 páginas à emergência econômica e social do país, tudo feito com a sobriedade e a competência habituais,
conforme o receituário liberal. Mas
nada do que a "Economist" diz é novo para brasileiros acostumados a
ler. É, literalmente, para inglês ver.
Mais reveladora parece ser a recepção deslumbrada do petismo ao
elogio que vem do celeiro do pensamento conservador. Mesclam-se,
aqui, a velha mentalidade colonizada e o novo oportunismo político.
Para nós, a imagem da capa talvez
seja o aspecto mais sugestivo e intrigante da edição da revista. Quem
"decola" como um foguete, deixando um clarão atrás de si, é o Cristo
Redentor. Não é preciso ir longe para imaginar que pode ser o próprio
Lula quem se desprende e descola
da cidade (ou do país) que abençoa
com os braços abertos. Enquanto a
paisagem (o país) permanece na penumbra e em segundo plano, o presidente-redentor se projeta de modo fulgurante no espaço sideral.
Abaixo da imagem de Cristo, a revista destaca que a "hubris" é o novo risco para o maior caso de sucesso na América Latina. "Hubris", ou
"hybris", palavra de origem grega,
significa o orgulho desmedido, a arrogância do herói, responsáveis por
sua queda. Faz algum sentido.
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