São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A festa da partilha

Em muitas comunidades, nota-se uma progressiva mudança no modo de celebrar o Natal. Reúnem-se as famílias para preparar a vinda de Cristo, formando numerosos grupos de reflexão sobre a Palavra de Deus. Vai-se passando da festa externa, do incentivo ao comércio e das compras excessivas para a percepção, à luz da fé, do sentido profundo e das consequências do nascimento de Jesus Cristo.
Mais do que para ornamentos, luzes e presentes, volta-se a atenção para Jesus, Filho de Deus, que nasce para nos revelar a misericórdia divina. Vem para nos dar a vida plena. Vem para nos converter, perdoar e introduzir no seu Reino de Justiça, Amor e Paz.
A celebração do Natal permite-nos reviver a indescritível beleza do desígnio de salvação.
Ao longo da história, homens e mulheres dedicaram-se a penetrar, pela oração, no mistério desse nascimento que nos ilumina e alegra no meio das vicissitudes deste mundo, fazendo crescer em nós a esperança nas promessas divinas.
A contemplação do presépio, do Menino Deus, acalentado nos braços da Virgem Maria ao lado de José, torna-se fonte fecunda de benefícios espirituais.
Diante da gruta de Belém, também nós somos convidados, como Francisco de Assis e tantos outros, a descobrir, no silêncio e nas horas de meditação, o amor sublime de Jesus Cristo por nós. É esse amor que nos liberta do apego aos bens materiais e da sede do prazer e do poder e nos atrai para a alegria do serviço gratuito ao próximo.
São muitas as lições do Natal. Ensina-nos o respeito e o amor à vida nascente. Na ternura e na coragem da Virgem Maria, encontramos o exemplo que inspira a dedicação de todas as mães. Na concórdia da Sagrada Família, aprendemos o valor da convivência e do aconchego do lar.
Hoje há, no entanto, um especial apelo para vivermos, com mais convicção, a mensagem cristã da fraternidade. Somos chamados a empenhar-nos na construção da sociedade solidária, sem discriminação, sem ressentimentos, em que todos tenham acesso a condições dignas.
Cristo, pequenino e frágil, que se identifica conosco em tudo, exceto no pecado, ensina-nos a escolher um estilo de vida frugal, semelhante ao do povo simples, sem privilégios, partilhando com o próximo vicissitudes e esperanças.
O Natal rompe, assim, a prisão do individualismo e abre perspectivas novas de fraternidade. E pode tornar-se, à luz de Cristo, o símbolo forte de uma sociedade que supere por amor as desigualdades sociais, a começar da fome. A festa consiste em partilhar, uns com os outros, as qualidades e os recursos materiais que Deus nos dá. Pensemos, em primeiro lugar, nos pobres, nas crianças sem família, nos que sofrem o desemprego e nos excluídos. São eles que precisam de nosso afeto e de nossos presentes.
Celebremos o Natal de Jesus, assumindo a cada dia o compromisso da partilha fraterna que está na raiz da sociedade que anuncia o Reino de Deus na justiça, na concórdia e na paz.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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