São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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EMÍLIO ODEBRECHT

Coragem e sensatez

PEGUE-SE aleatoriamente o caderno de economia de algum jornal brasileiro da semana passada. Leiam-se apenas as manchetes das principais reportagens. Demissões, fuga de dólares, redução de investimentos, crédito que não chega. Pronto. Temos a receita para estragar o Natal.
Mas será que este fatalismo é a melhor escolha do momento? Estou certo de que não.
Há muito coisa que um país pode fazer perante adversidades como as que hoje enfrentamos.
Nós, brasileiros, não sabemos ainda como o conjunto das nações reagirá à crise; mas podemos -e devemos- assumir uma atitude corajosa e sensata em prol de nosso desenvolvimento, agora e no futuro.
Há consenso de que 2009 será um ano de fraco crescimento do comércio mundial e talvez até mesmo de estagnação ou retração. Os principais segmentos exportadores farão menos embarques ao exterior. A demanda interna, provavelmente, cairá.
Isso significa que seremos poupados daquelas imagens comuns durante a safra da soja, por exemplo, no porto de Paranaguá. Em terra, filas quilométricas de caminhões em acostamentos de estradas estreitas, aguardando semanas para desembarcar suas cargas. No mar, centenas de navios ancorados ao largo, por tempo igual ou maior, esperando a vez de atracar.
Fiquemos nesse exemplo porque aquelas imagens têm um enorme valor simbólico. Por um lado, demonstravam o nosso vigor produtivo e nosso potencial de inserção no comércio mundial, e, por outro, denunciavam a precariedade de nossa infra-estrutura.
Sejamos práticos. Se ao longo de 2009 nossos portos e aeroportos serão menos exigidos, por que não aproveitar e levar adiante investimentos que lhes dêem capacidade semelhante aos dos países que consideram a atividade exportadora um ativo a ser zelado?
O mesmo raciocínio se aplica a outros setores nos quais os recursos do PAC podem se somar aos da iniciativa privada, principalmente porque ações coordenadas nesse sentido refletirão diretamente na atividade econômica do país, contribuindo para mantê-la pelo menos nos níveis que conseguimos alcançar nos últimos anos.
É a arte de fazer opções, eleger prioridades e articular forças numa só direção, com governo e empresas unidos para a construção das bases necessárias à melhoria de nossa competitividade no futuro.
Se a época é de indesejada calmaria, vamos fazer em nosso barco os reparos que há tanto tempo ele precisa.
Quando na economia mundial voltarem a soprar os ventos da prosperidade, estaremos prontos para navegar com mais eficiência e eficácia do que fizemos até agora.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve nesta coluna três domingos por mês.


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