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EMÍLIO ODEBRECHT
Coragem e sensatez
PEGUE-SE aleatoriamente o
caderno de economia de algum jornal brasileiro da semana passada. Leiam-se apenas as
manchetes das principais reportagens. Demissões, fuga de dólares,
redução de investimentos, crédito
que não chega. Pronto. Temos a receita para estragar o Natal.
Mas será que este fatalismo é a
melhor escolha do momento? Estou certo de que não.
Há muito coisa que um país pode
fazer perante adversidades como
as que hoje enfrentamos.
Nós, brasileiros, não sabemos
ainda como o conjunto das nações
reagirá à crise; mas podemos -e
devemos- assumir uma atitude
corajosa e sensata em prol de nosso
desenvolvimento, agora e no
futuro.
Há consenso de que 2009 será
um ano de fraco crescimento do
comércio mundial e talvez até mesmo de estagnação ou retração. Os
principais segmentos exportadores farão menos embarques ao exterior. A demanda interna, provavelmente, cairá.
Isso significa que seremos poupados daquelas imagens comuns
durante a safra da soja, por exemplo, no porto de Paranaguá. Em
terra, filas quilométricas de caminhões em acostamentos de estradas estreitas, aguardando semanas
para desembarcar suas cargas. No
mar, centenas de navios ancorados
ao largo, por tempo igual ou maior,
esperando a vez de atracar.
Fiquemos nesse exemplo porque
aquelas imagens têm um enorme
valor simbólico. Por um lado, demonstravam o nosso vigor produtivo e nosso potencial de inserção
no comércio mundial, e, por outro,
denunciavam a precariedade de
nossa infra-estrutura.
Sejamos práticos. Se ao longo de
2009 nossos portos e aeroportos
serão menos exigidos, por que não
aproveitar e levar adiante investimentos que lhes dêem capacidade
semelhante aos dos países que consideram a atividade exportadora
um ativo a ser zelado?
O mesmo raciocínio se aplica a
outros setores nos quais os recursos do PAC podem se somar aos da
iniciativa privada, principalmente
porque ações coordenadas nesse
sentido refletirão diretamente na
atividade econômica do país, contribuindo para mantê-la pelo menos nos níveis que conseguimos alcançar nos últimos anos.
É a arte de fazer opções, eleger
prioridades e articular forças numa
só direção, com governo e empresas unidos para a construção das
bases necessárias à melhoria de
nossa competitividade no futuro.
Se a época é de indesejada calmaria, vamos fazer em nosso barco os
reparos que há tanto tempo ele
precisa.
Quando na economia mundial
voltarem a soprar os ventos da
prosperidade, estaremos prontos
para navegar com mais eficiência e
eficácia do que fizemos até agora.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve nesta coluna três
domingos por mês.
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