|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
O scanner corporal
A UNIÃO EUROPEIA já decidiu, e alguns aeroportos, como o de Amsterdã, já instalaram os seus scanners antiterror,
que, no frigir dos ovos, são o big
brother mais potente que se podia
imaginar, pois podem tirar a roupa
de todo mundo, num mundo que já não tem muita roupa.
Tudo surgiu quando um terrorista nigeriano burlou todas as formas
de vigilância e quase explodiu um
avião da Northwest Airlines que
voava para Detroit na noite de Natal. A solução foi obrigar todos os
passageiros no futuro a passar por
scanners, que, se têm a vantagem
de evitar essa apalpação a que nos submetem os vigilantes aeroportuários, nos despem logo.
A grande discussão que hoje
preocupa a liberdade individual é
como manter os direitos de privacidade num mundo em que a tecnologia tudo invade e torna esses
direitos inexistentes, acabando com os direitos humanos.
Fora do mundo, no Brasil abre-se um grande debate sobre as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos e propõe-se até
mapear em que momento da história não foram cumpridos, para punição dos responsáveis. Lembro-me de que, quando os ossos de dom
Pedro 1º vieram para o Brasil e percorreram todas as capitais do país,
em Recife não quiseram recebê-lo,
pois ele fora o repressor da Confederação do Equador e quem mandara enforcar o Frei Caneca.
Enquanto discute-se isso, os
operadores de controle alfandegário podem tirar as nossas roupas e
verificar o que temos demais e de menos.
A eficiência das máquinas é tão
grande que o senhor James Schear,
encarregado do aeroporto de Baltimore, diz que "as máquinas são tão
precisas que olham através da roupa e podem captar não só o gênero
do passageiro, mas até a gota de
suor na nuca do viajante". Outro
expert mais claro, do "Los Angeles
Times", fala, em vez de gênero, em "genitália".
Mas as coisas não são tão tranquilas. Os judeus ultraortodoxos,
por exemplo, invocam motivos religiosos para resistir a essas máquinas, pois as leis do Tzniut (a modéstia) na Torá, no Levítico (18:9-17), interpretadas pelo Centro Rabínico da Europa, alertam que as
mulheres judias não podem se
mostrar "acima do joelho e abaixo
do pescoço". Já outros mais, por
motivos mais que justos, não pensam tanto nos homens, mas não
admitem que suas esposas, filhas
e mães sejam bisbilhotadas pela polícia.
Ora, aqui no Brasil, onde o segredo de Justiça só existe para os que
são acusados, o que não valerá passar para a mídia todo segredo da
Gisele Bündchen, com direito a
Photoshop? Então, os nossos ministros Vannuchi e Jobim estão como a UDN dos meus tempos de jovem: discutindo o sexo dos anjos.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Rei Zulu Próximo Texto: Frases
Índice
|