São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Eis o fato novo para a CPI

BRASÍLIA - Dois ex-diretores da maior multinacional de informática para jogatina do planeta, a GTech, foram à Polícia Federal na sexta-feira. Confirmaram encontros com Waldomiro Diniz já durante o governo Lula. Nada de novo.
Nessas reuniões, o ex-funcionário do Palácio do Planalto se apresentava como "assessor do ministro-chefe da Casa Civil", José Dirceu. Fato já conhecido. Nada de novo.
A pauta de Waldomiro era a renovação de um contrato de mais de R$ 700 milhões da GTech com a Caixa Econômica Federal. Nada de novo.
Ocorre que os dois ex-integrantes da GTech afirmaram à PF que Waldomiro apresentou uma condição para que a CEF renovasse seu contrato com a multinacional: o pagamento de até R$ 20 milhões (acabou ficando por R$ 6 milhões) para uma empresa de consultoria. Pode ser tudo mentira? Pode. Mas não interessa. Eis aí um fato novo. Novíssimo.
Os R$ 6 milhões de propina iriam para uma empresa de consultoria de um secretário de governo de Ribeirão Preto nos anos 90, quando o prefeito dessa cidade era Antonio Palocci Filho, o atual ministro da Fazenda.
Resumo: o ex-assessor de José Dirceu é acusado, em depoimentos à PF, de praticar concussão durante o governo Lula, no ano passado.
Os governistas já usam o sofisma habitual. A revelação dessa possível nova estripulia de Waldomiro é sinal de que a investigação está andando. Errado. Só demonstra como o caso é nebuloso e sombrio.
Para começar, a investigação corre sob um inexplicável sigilo. Até hoje também não houve requisição da PF para que o Planalto forneça a relação das ligações telefônicas recebidas e efetuadas por Waldomiro.
Uma CPI tem defeitos e excessos. Num país com instituições frágeis como o Brasil, infelizmente, é o único meio capaz de dar as respostas com a celeridade que a sociedade espera para um escândalo que respinga nos dois principais ministros de Lula.


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