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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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NINGUÉM ESTÁ A SALVO

Praticamente encerrada a guerra no Iraque, as baterias retóricas norte-americanas estão-se voltando contra a Síria. Ao longo dos últimos dias, funcionários de vários escalões do governo dos EUA -de subsecretários ao próprio presidente- se puseram a assacar a Damasco uma série de acusações, que vão de produzir e testar armas químicas a dar refúgio a membros da cúpula do regime de Saddam Hussein.
No mais recente "raid" contra o governo do presidente sírio, Bashar al Assad, ontem, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, ameaçou Damasco com sanções "diplomáticas, econômicas ou de outra natureza", e o porta-voz-chefe da Presidência dos EUA, Ari Fleischer, classificou o país como "nação delinquente", que "há muito tempo frequenta a lista de países terroristas". Na véspera, o próprio presidente George W. Bush havia dito que a Síria possui arsenais químicos.
É possível que a Casa Branca esteja apenas querendo colocar um pouco de pressão sobre Al Assad. Mas, uma vez que o bom senso e o comedimento não têm sido a marca da administração Bush, é possível também que o governo dos EUA, encantado com a facilidade com que obteve a vitória militar sobre o Iraque, esteja fabricando o pretexto para lançar-se, agora ou no futuro próximo, numa guerra contra a Síria.
Os "falcões" de Washington já provaram que não são contidos por instrumentos como a diplomacia ou a opinião pública internacional. E vale registrar que, em termos estritamente legais, nada impede a Síria de possuir armas químicas ou dar asilo a membros do governo de Saddam. Após a derrota na primeira Guerra do Golfo o Iraque se comprometeu a destruir seu armamento não-convencional (o que parece ter mesmo feito), mas a Síria não é signatária da Convenção de Armas Químicas.
Os EUA já passaram por cima do direito internacional no caso do Iraque e não há por que acreditar que leis os deteriam agora ou no futuro. Washington parece ter decidido exercer sua vocação imperial. Até que Bush e seus "falcões" deixem a Casa Branca, nenhum país está seguro.


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