|
Próximo Texto | Índice
NINGUÉM ESTÁ A SALVO
Praticamente encerrada a
guerra no Iraque, as baterias retóricas norte-americanas estão-se
voltando contra a Síria. Ao longo dos
últimos dias, funcionários de vários
escalões do governo dos EUA -de
subsecretários ao próprio presidente- se puseram a assacar a Damasco uma série de acusações, que vão
de produzir e testar armas químicas
a dar refúgio a membros da cúpula
do regime de Saddam Hussein.
No mais recente "raid" contra o governo do presidente sírio, Bashar al
Assad, ontem, o secretário de Estado
norte-americano, Colin Powell,
ameaçou Damasco com sanções "diplomáticas, econômicas ou de outra
natureza", e o porta-voz-chefe da
Presidência dos EUA, Ari Fleischer,
classificou o país como "nação delinquente", que "há muito tempo
frequenta a lista de países terroristas". Na véspera, o próprio presidente George W. Bush havia dito que a
Síria possui arsenais químicos.
É possível que a Casa Branca esteja
apenas querendo colocar um pouco
de pressão sobre Al Assad. Mas, uma
vez que o bom senso e o comedimento não têm sido a marca da administração Bush, é possível também que o governo dos EUA, encantado com a facilidade com que obteve a vitória militar sobre o Iraque, esteja fabricando o pretexto para lançar-se, agora ou no futuro próximo,
numa guerra contra a Síria.
Os "falcões" de Washington já provaram que não são contidos por instrumentos como a diplomacia ou a
opinião pública internacional. E vale
registrar que, em termos estritamente legais, nada impede a Síria de possuir armas químicas ou dar asilo a
membros do governo de Saddam.
Após a derrota na primeira Guerra
do Golfo o Iraque se comprometeu a
destruir seu armamento não-convencional (o que parece ter mesmo
feito), mas a Síria não é signatária da
Convenção de Armas Químicas.
Os EUA já passaram por cima do
direito internacional no caso do Iraque e não há por que acreditar que
leis os deteriam agora ou no futuro.
Washington parece ter decidido
exercer sua vocação imperial. Até que
Bush e seus "falcões" deixem a Casa
Branca, nenhum país está seguro.
Próximo Texto: Editoriais: POLÍTICA INDUSTRIAL Índice
|