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FERNANDO RODRIGUES
Ninguém é freira
BRASÍLIA - Ontem surgiu mais
um desvio de conduta no Congresso. O deputado Fábio Faria (PMN-RN) pagou com dinheiro público
passagens aéreas para amigos e para sua ex-namorada, a apresentadora Adriane Galisteu.
Michel Temer reagiu assim ao
episódio: "Não é um padrão normal". É verdade. Mas, como sempre, nada acontecerá -nem Fábio
Faria será admoestado.
A maior consequência dessa onda de escândalos é o enfraquecimento talvez inédito do Poder Legislativo. Até mesmo durante a última ditadura (1964-1985), os militares fechavam o Congresso quando
queriam aprovar algo -e a maioria
era da Arena, partido do governo.
Agora, basta baixar uma medida
provisória e estamos conversados.
De maneira involuntária, o presidente Lula fez nesta semana uma
declaração com duplo sentido que
expressa à perfeição o momento
pelo qual passam as instituições.
Tendo ao seu lado os presidentes do
STF, Gilmar Mendes, da Câmara,
Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o
petista soltou a boutade: "Ninguém
aqui é freira e santa, e não estamos
em um convento".
A suposta intenção de Lula, no
contexto de sua fala, era dizer que
às vezes não há harmonia entre os
três Poderes. Mas o outro recado
também estava lá: em Brasília, ninguém é freira ou santa. Não ocorreu
a nenhum dos outros presentes,
mesmo de maneira educada, fazer
um reparo: "Presidente, fale por si
próprio". O silêncio funcionou como confissão -apesar da ambivalência do discurso presidencial.
Assim, a avalanche de indecências vai criando uma indiferença
crescente. "Não é um padrão normal", mas tudo é vendido como legal. Ontem, um deputado flagrado
em um delito recente constatava:
"Só recebi cinco e-mails de protesto". Eis aí uma razão para a degradação ter chegado ao ponto atual.
frodriguesbsb@uol.com.br
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