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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
O novo tratado de redução de
armas atômicas anunciado pelos EUA e pela Rússia representa
mais uma vitória da Casa Branca sobre o Kremlin. As duas maiores potências nucleares do planeta concordaram em cortar seus respectivos arsenais estratégicos em dois terços ao
longo dos próximos dez anos. Ainda
conservariam capacidade para destruir a maior parte da vida na Terra,
mas, por alguma razão, convencionou-se acreditar que as reduções são
algo em si positivo.
Embora os cortes propostos não
signifiquem muito, é certo que não
constituem um mal. O problema
com o novo tratado são os acertos
paralelos que vêm com ele.
O mais grave é que, ao concordar
com o novo documento, a Rússia indiretamente reconhece o abandono
do Tratado Antimísseis Balísticos, o
TAB, de 1972. Era esse tratado que limitava o direito das potências de
criar mecanismos de defesa contra
mísseis. Agora os EUA ficam livres
para dar início à construção do escudo espacial antinuclear, que, se funcionar, desequilibrará ainda mais o
jogo em favor de Washington.
Como contrapartida visível, Moscou obteve dos EUA apenas a formalização do tratado. A administração
Bush teria preferido só um acerto
verbal. Especialistas, porém, acreditam que o Kremlin conseguiu outras
concessões em outros campos. Cita-se uma aproximação com a Otan, a
aliança militar ocidental, e ajuda financeira para a destruição das armas. Há quem fale também em sinal
verde de Washington para a Rússia
agir contra os rebeldes tchetchenos.
Não importa tanto o que tenha sido
acertado, o fato é que a Rússia atravessa dificuldades. Já não se pode dar
ao luxo de custear a manutenção de
seus arsenais. De mais a mais, o
Kremlin não tem como opor-se aos
planos de Washington em campo algum. Aparentemente, o que as duas
nações fizeram foi acertar o preço
das concessões.
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