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FERNANDO GABEIRA
Chovendo em nossa cabeça
RIO DE JANEIRO - As chuvas que
castigam o Norte-Nordeste castigam nossa reputação. Quando caíram em Santa Catarina, fizemos
inúmeros debates nas cidades do
Estado para aprender as lições.
Trouxemos o debate para Brasília,
nacionalizando-o. Pouco adiantou
todo o esforço; as chuvas reproduzem os problemas, e não há soluções no horizonte.
Tanto em Santa Catarina como
no norte do Rio, constatamos que a
ajuda do governo sempre chega tarde. Em alguns casos, só chega no
próximo desastre. Saída? A sugestão é um fundo de prevenção de desastres que possa ser acionado no
momento da crise.
Muitas cidades não têm defesa civil organizada. Os governos ficam
sem um interlocutor local para iniciar os trabalhos. Essa é uma tarefa
de todos. Temos levado a ideia de
cursos sobre defesa civil nas escolas. As crianças podem ajudar a preparar os pais.
Assim como não há uma pressão
sobre os prefeitos para que organizem a defesa civil, não há também
projetos de adaptação às chuvas. Há
algum tempo tento levar a Petrópolis a ideia de um projeto que possa
ser levado ao Brasil, respeitadas as
diferenças.
O que mais dói não é a preparação
estratégica, mas o silêncio da política. Estamos com quase um milhão
de atingidos. O presidente fez um
sobrevoo, prometeu ajuda. Não há
sequência além do socorro básico.
Nas chuvas do norte do Rio, obtivemos certa coordenação com o
Banco do Brasil, que abriu linha de
crédito para pequenos empresários. Agora, era preciso uma sala de
crise: mapas, gráficos, dados novos,
tudo deveria estar sobre a mesa.
Ou avançamos agora, ou perderemos cidades inteiras para as águas.
O governo precisa pedir socorro à
ciência (Bush não acreditou em Nova Orleans) e à sociedade. Em época
de gripe e chuva, que tal ler "Os Três
Porquinhos"?
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