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FERNANDO RODRIGUES
A dose do remédio
BRASÍLIA - Quando José Dirceu,
Antonio Palocci e tantos outros petistas ilustres foram alijados da linha sucessória de Lula, vários nomes surgiram para tentar preencher esse vácuo político.
Dilma Rousseff foi uma das opções. Havia outros petistas no páreo. Jaques Wagner, Marta Suplicy,
Patrus Ananias e Tarso Genro eram
alguns deles. Mas Lula preferiu escolher mesmo sua ex-ministra de
Minas e Energia.
No programa partidário do PT
nesta semana, o presidente apareceu enaltecendo sua candidata.
Comparou-a a Nelson Mandela.
Num dos trechos, deu a entender
que deve quase tudo a Dilma: "Ela
simplesmente foi exuberante na
coordenação do meu governo. Eu
digo, sem medo de errar: grande
parte do sucesso do governo está na
capacidade de coordenação da
companheira Dilma Rousseff".
Trata-se de uma interpretação
elástica da história. Tivesse sido outro o escolhido para ser o candidato
a presidente pelo PT, a frase de Lula
poderia ter sido assim: "Eu digo,
sem medo de errar: grande parte do
sucesso do governo está na capacidade de coordenação do companheiro Patrus Ananias". Surgiriam
então imagens dos milhões de beneficiados pelo Bolsa Família.
Discurso eleitoral é assim mesmo. Não há surpresa no exagero dos
partidos ao venderem seus candidatos, todos perfeitos.
No caso da estratégia do PT, o remédio está sendo usado em doses
cavalares. O lulismo foi inoculado
em grau máximo na biografia de
Dilma Rousseff no programa de TV
da quinta-feira. Essa nova interpretação do papel da petista nos últimos sete anos ao lado de Lula é considerada vital para haver chance de
sucesso em outubro.
Há um risco. Remédio em dose
muito elevada transforma-se em
veneno. Mata o paciente. Os adversários do PT contam com essa calibragem exagerada de Lula. Na
quinta-feira, na TV, o uso do medicamento aproximou-se do limite.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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