São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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JOSÉ SARNEY

O cerco ao Brasil

O BRASIL sofre na América do Sul uma onda de hostilidade cujas motivações são absolutamente demagógicas e populistas. Nossa conduta com nossos vizinhos sempre foi exemplar. Esse quadro exige de nossa diplomacia um trabalho equilibrado e competente, que ela tem exercido bem, com o aprendizado da arte de engolir sapos.
Criou-se a visão de um Brasil movido apenas por interesses expansionistas, sem nenhum verdadeiro espírito de cooperação e com uma exacerbada gulodice. Isso contrasta com nossa posição de nunca querermos ser hegemônicos, mas, evidentemente, não importa em vestir a camisa de fraco. O futuro não nos perdoaria.
Na última eleição argentina, o grande chamariz era bater no Brasil, condenar o Mercosul -que só estava acabando com o país. Os presidentes dos dois países não deixaram que isso contaminasse nossas relações.
Na Bolívia, o Brasil está no banco dos réus com a fácil descoberta de um inimigo para desviar a discussão dos verdadeiros problemas internos. Evitar a invasão brasileira é a bandeira.
No Paraguai, a latente questão de Itaipu está no centro das discussões da sucessão. O Brasil é o vilão.
O bispo Fernando Lugo, o mais forte candidato nas pesquisas, tem na oposição ao Tratado de Itaipu a bandeira máxima. E a demagogia se encarrega de fazer prosperar essa posição, logo seguida pelos outros contendores.
No Equador, coloca-se a acusação de um Brasil invasor da Amazônia equatoriana, tomando ilegalmente seus campos de petróleo. E, em seguida, prega-se o cancelamento das concessões à Petrobras dos blocos 18 e 31 e do campo Palo Azul.
Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez tomou a decisão de fazer do país uma potência militar, com a compra de nove submarinos, oito corvetas, 24 caças Sukhoi-30, 35 helicópteros de combate, um sistema de mísseis Tor-M1, cem mil fuzis Kalashnikov e uma fábrica deles. O projeto é investir US$ 60 bilhões em armas nos próximos dez anos.
Só o carisma e o prestígio, a habilidade e a visão do presidente Lula têm evitado confrontos. Sua política de cooperação é certa. É da tradição brasileira, e é melhor assim. O que não podemos é deixar o avanço do anti-brasileirismo como moda continental.
Nossa diplomacia tem sido competente em não aceitar luvas, mas esse cerco ao nosso país tem de ser revertido.


jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY
escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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