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JOSÉ SARNEY
O cerco ao Brasil
O BRASIL sofre na América do
Sul uma onda de hostilidade
cujas motivações são absolutamente demagógicas e populistas. Nossa conduta com nossos vizinhos sempre foi exemplar. Esse
quadro exige de nossa diplomacia
um trabalho equilibrado e competente, que ela tem exercido bem,
com o aprendizado da arte de engolir sapos.
Criou-se a visão de um Brasil
movido apenas por interesses expansionistas, sem nenhum verdadeiro espírito de cooperação e com
uma exacerbada gulodice. Isso
contrasta com nossa posição de
nunca querermos ser hegemônicos, mas, evidentemente, não importa em vestir a camisa de fraco. O
futuro não nos perdoaria.
Na última eleição argentina, o
grande chamariz era bater no Brasil, condenar o Mercosul -que só
estava acabando com o país. Os
presidentes dos dois países não
deixaram que isso contaminasse
nossas relações.
Na Bolívia, o Brasil está no banco
dos réus com a fácil descoberta de
um inimigo para desviar a discussão dos verdadeiros problemas internos. Evitar a invasão brasileira é
a bandeira.
No Paraguai, a latente questão de
Itaipu está no centro das discussões da sucessão. O Brasil é o vilão.
O bispo Fernando Lugo, o mais forte candidato nas pesquisas, tem na
oposição ao Tratado de Itaipu a
bandeira máxima. E a demagogia
se encarrega de fazer prosperar essa posição, logo seguida pelos outros contendores.
No Equador, coloca-se a acusação de um Brasil invasor da Amazônia equatoriana, tomando ilegalmente seus campos de petróleo. E,
em seguida, prega-se o cancelamento das concessões à Petrobras
dos blocos 18 e 31 e do campo Palo
Azul.
Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez tomou a decisão de fazer
do país uma potência militar, com
a compra de nove submarinos, oito
corvetas, 24 caças Sukhoi-30, 35
helicópteros de combate, um sistema de mísseis Tor-M1, cem mil fuzis Kalashnikov e uma fábrica deles. O projeto é investir US$ 60 bilhões em armas nos próximos dez
anos.
Só o carisma e o prestígio, a habilidade e a visão do presidente Lula
têm evitado confrontos. Sua política de cooperação é certa. É da tradição brasileira, e é melhor assim.
O que não podemos é deixar o
avanço do anti-brasileirismo como
moda continental.
Nossa diplomacia tem sido competente em não aceitar luvas, mas
esse cerco ao nosso país tem de ser
revertido.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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