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CLÓVIS ROSSI
A lei, pobre da lei
SÃO PAULO - O senador Marco
Maciel, sempre que solicitado a fazer previsões sobre o futuro (com
perdão da redundância), transferia
a palavra para o Ananias, um ex-beque pernambucano. Ananias, ao ser
entrevistado antes das partidas, dizia que só fazia previsões sobre o
passado.
Pedro Malan, quando ministro da
Fazenda, aperfeiçoou a filosofia
Ananias. Dizia que, no Brasil, nem
sobre o passado é seguro fazer previsões, no caso econômicas. Aludia
à quantidade de armários que subitamente se abriam, na forma de planos econômicos do passado que
eram questionados na Justiça, com
eventuais vitórias dos querelantes
contra o governo.
O caso Varig demonstra que tanto Ananias como Malan são sábios.
No Brasil, não dá para fazer previsões nem sobre o passado. A Varig
ou um pedaço dela é da Gol, mas como outro pedaço pode ter a venda
anulada, há o risco de que também a
venda para a Gol o seja.
É apenas um entre mil exemplos
de como o país ainda é primitivo do
ponto de vista disso que os anglo-saxões chamam, de boca cheia, de
"rule of law" (vigência da lei, em
tradução livre).
Não por acaso, a Brookings Institution divulgou, meses atrás, um
"Índice de Fraqueza do Estado em
Países em Desenvolvimento".
O Brasil ficou em 43º lugar entre
141 países, computados cinco grandes tópicos (política, economia, segurança, bem-estar e renda per capita). Sua nota geral é 7,22, em 10
possíveis.
Mas em política é que o país leva
bomba, com apenas 6,42. Para comparação, o Uruguai tem 8,67 nesse
quesito.
Pior ainda: em "rule of law", a nota brasileira é ainda mais baixa
(5,56); em "controle da corrupção",
o desastre previsível (4,67).
Posto de outra forma, o Brasil pode ser "investment grade" mas está
longe de ser "corruption grade" ou
"law grade".
crossi@uol.com.br
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