|
Próximo Texto | Índice
SOMBRAS NA PF
Na semana passada, o Planalto parecia ter encontrado solução para
mais uma crise em seus corredores e
entre os partidos ditos governistas.
Após muita inércia e indecisão, o que
não é novidade, foi indicado o diretor
da Polícia Federal. Com a nomeação
o presidente pode até ter controlado,
tardiamente, mais um foco de tumulto no governismo. Mas a história de
erros nesse caso não parou por aí.
Um professor de filosofia e ex-padre, preso durante o regime militar,
diz que foi torturado pelo policial indicado para dirigir a PF. Um religioso
reafirma a acusação. Laudo da Secretaria da Segurança Pública do Maranhão registra que o professor José
Antonio Magalhães Monteiro foi vítima de violências enquanto esteve sob
a guarda de João Campelo, o diretor
indicado da PF. Não há por ora evidência de que Campelo tenha presenciado a sessão de tortura ou que
dela tenha tomado parte.
Seria leviandade criminosa dizer,
hoje, que o presidente nomeou um
torturador para dirigir a Polícia Federal. Mas causa mal-estar na opinião
pública de um país democrático que
tenha sido indicado alguém que pelo
menos comandou agentes para
quem a tortura é um método de investigação. Causa ademais espanto
que o governo não tivesse considerado tal problema ao nomear um funcionário público de alto escalão, como se não bastasse a série de crises
com as quais o Planalto tem se envolvido, em particular neste ano.
Tal espanto agora cede lugar ao
pasmo da incompreensão. O governo confirma que Campelo tomará
posse hoje, mas o presidente requereu ao serviço de inteligência investigações a respeito do funcionário que
nomeou. Isto é, a Presidência da República como que comunica ao país
suas dúvidas sobre um delegado que
já estará no comando da PF. O Planalto assume as incertezas a respeito
do passado de Campelo e, enfim,
lança descrédito sobre os critérios da
decisão que tomou a tanto custo e
após tanta crise. A um tumulto político o governo adiciona mal-estar na
sociedade e, em seguida, desmoraliza os próprios atos. É deplorável.
Próximo Texto: Editorial: TRAGÉDIA REGIONAL Índice
|