São Paulo, Terça-feira, 15 de Junho de 1999
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SOMBRAS NA PF

Na semana passada, o Planalto parecia ter encontrado solução para mais uma crise em seus corredores e entre os partidos ditos governistas. Após muita inércia e indecisão, o que não é novidade, foi indicado o diretor da Polícia Federal. Com a nomeação o presidente pode até ter controlado, tardiamente, mais um foco de tumulto no governismo. Mas a história de erros nesse caso não parou por aí.
Um professor de filosofia e ex-padre, preso durante o regime militar, diz que foi torturado pelo policial indicado para dirigir a PF. Um religioso reafirma a acusação. Laudo da Secretaria da Segurança Pública do Maranhão registra que o professor José Antonio Magalhães Monteiro foi vítima de violências enquanto esteve sob a guarda de João Campelo, o diretor indicado da PF. Não há por ora evidência de que Campelo tenha presenciado a sessão de tortura ou que dela tenha tomado parte.
Seria leviandade criminosa dizer, hoje, que o presidente nomeou um torturador para dirigir a Polícia Federal. Mas causa mal-estar na opinião pública de um país democrático que tenha sido indicado alguém que pelo menos comandou agentes para quem a tortura é um método de investigação. Causa ademais espanto que o governo não tivesse considerado tal problema ao nomear um funcionário público de alto escalão, como se não bastasse a série de crises com as quais o Planalto tem se envolvido, em particular neste ano.
Tal espanto agora cede lugar ao pasmo da incompreensão. O governo confirma que Campelo tomará posse hoje, mas o presidente requereu ao serviço de inteligência investigações a respeito do funcionário que nomeou. Isto é, a Presidência da República como que comunica ao país suas dúvidas sobre um delegado que já estará no comando da PF. O Planalto assume as incertezas a respeito do passado de Campelo e, enfim, lança descrédito sobre os critérios da decisão que tomou a tanto custo e após tanta crise. A um tumulto político o governo adiciona mal-estar na sociedade e, em seguida, desmoraliza os próprios atos. É deplorável.


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