São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O destino de São Paulo e o futuro do Brasil

PAULO MALUF

Em 1985 o Brasil reconquistou a democracia, porém não encontrou uma nova trilha de progresso econômico e desenvolvimento social. Naquele ano tomou posse o primeiro presidente civil após o período militar. Tancredo Neves, com quem disputei a Presidência da República, foi abatido pela fatalidade antes de iniciar o seu governo. A morte inesperada deixou um vazio de projeto de desenvolvimento e identidade nacional até agora não preenchido.
Tancredo Neves tinha seu projeto, divergente do meu, mas sem dúvida bem articulado. Se tivéssemos governado ele ou eu, a história do Brasil seria outra, diferente e melhor. O vazio levou à improvisação do governo Sarney, seguida pela aventura da era Collor e conseqüente transitoriedade do governo Itamar.
Com Fernando Henrique e Serra, o Brasil alinhou-se de acordo com os ditames da política internacional das grandes potências. Viramos uma versão de país bem comportado, ávido por elogios do Primeiro Mundo, porém adotando uma política econômica de absoluta submissão. Juros abusivos e pornográficos, salários aviltados, desemprego, falta de perspectivas e especulações financeiras desenfreadas. A receita tucana fez o Brasil despencar da oitava pra a 15ª economia do mundo. Em matéria de administração perniciosa, ninguém bateu a dupla FHC/Serra.


Como paulistano, não quero ver a minha capital nas mãos de quem fracassou no seu comando


Surpreendentemente, o atual governo do PT, que se elegeu para mudar, manteve as linhas básicas dessa política perniciosa. Nem sequer a questão social está sendo enfrentada. A conseqüência disso tudo é a deterioração evidente do tecido social, dramaticamente demonstrada pelas mazelas fundamentais do desemprego e da violência: 2,5 milhões de brasileiros imigraram para sobreviver no estrangeiro.
De todas as instâncias de poder, o município é a que mais se ressente desse enfraquecimento. É no município que as pessoas sobrevivem, sofrem, mobilizam-se. São Paulo é o próprio retrato dessa crise.
Pergunto a você, jovem paulistano: qual o projeto para a sua cidade? Qual a perspectiva do seu futuro? O que lhe reserva o amanhã? Repito a pergunta para o empresário, o trabalhador, o profissional liberal, para a mulher e para todos os segmentos econômicos e sociais e ouso adiantar a resposta: não há projeto, não há perspectiva. O medo venceu a esperança. O modelo gerado pela era FHC/ Serra vem, lamentavelmente, sendo conservado no período Marta/Lula. Nenhum projeto para o Brasil. Nenhuma perspectiva para São Paulo. As mudanças prometidas não ocorreram, as promessas não foram cumpridas, o fosso social só fez se ampliar.
E, já que estamos na metrópole mais importante da América Latina, é aqui que temos de começar a virada do jogo. É aqui que temos de romper o círculo vicioso crise econômica/degradação das cidades, para substituí-lo pelo desenvolvimento econômico/valorização das cidades. Para isso precisamos de um projeto. Um projeto para São Paulo, que substitua os desacreditados programas de governo por uma visão de futuro atrelada a metas simples e claras.
Neste momento, a história oferece a São Paulo a oportunidade de discutir seu destino e reencontrar seu rumo. Não podemos desperdiçá-la, persistindo no erro ou, o que é ainda pior, tentando retomar um modelo vencido, derrotado, que nos conduziu ao caos.
Tenho perguntado, sem falsa modéstia: quem realizou tanto quanto eu, nesta cidade e neste Estado? Até os mais ferrenhos adversários são obrigados a concordar: ninguém. Nem de longe. Tenho orgulho das minhas obras como se fossem minhas filhas e meus filhos. Não apenas porque são bem construídas, resistindo ao tempo -o que é, aliás, a maior prova de rigorosa exigência e correção na aplicação dos recursos públicos. Obra bem feita é resultado de verba bem aplicada e capacidade gerencial. Orgulho-me também porque essas obras são fundamentais para o dia-a-dia de milhões de paulistanos.
Porém o que mais me gratifica é o reconhecimento de que minhas realizações revelam uma visão de futuro, uma capacidade de antecipar o amanhã que, infelizmente, não teve continuidade e por isso se transformou na maior e mais importante necessidade de São Paulo neste momento.
Como paulistano, não quero ver a minha capital nas mãos de quem fracassou no seu comando. Ou de quem, sabidamente, não tem vocação nem nunca administrou uma cidade. Chega de inexperiência. Chega de visão limitada, de soluções substituídas por factóides. Chega de incompetência; de palavras jogadas ao vento. São Paulo precisa de um prefeito capacitado para canalizar as energias e a inteligência coletiva em torno de um projeto que desenvolva a esperança, a auto-estima, a confiança dos paulistanos no seu amanhã.
Essa é a maior contribuição que podemos dar neste momento a nós mesmos e a todos os demais brasileiros: reencontrar o nosso destino. Concentrar esforços e realizações que permitam a São Paulo retomar a liderança do Brasil rumo a um futuro à altura da sua grandeza, do seu potencial, da generosidade e capacidade de sua gente.
Para liderar esse processo, São Paulo precisa de competência, experiência, coragem e visão de futuro. São Paulo precisa de um bom prefeito. Esse é o ponto de partida. A decisão sobre o nosso destino e o próprio futuro do Brasil está nas suas mãos.

Paulo Salim Maluf, 73, engenheiro, é o candidato do PP à Prefeitura de São Paulo. Foi deputado federal pelo PDS-SP (1983-86), prefeito de São Paulo (1969-71 e 1992-96) e governador do Estado de São Paulo (1979-82).


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