|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ FERNANDO VIANNA
Somos idiotas
RIO DE JANEIRO - O texto ocupava
só uma coluna, em página par, no
caderno sobre a Copa de 2014 publicado pela Folha na última segunda-feira. Mas gritava atenção
por causa do contraste com tudo o
que estava em volta.
"Inglaterra-2018 já tem estádios
e garantias", dizia o título. "O projeto de candidatura do país já tem
suas 12 cidades-sede e os 17 jogos
que abrigarão os jogos", assinalava
o texto.
Se o presidente Lula disser que
não é justo nos comparar à Inglaterra, estará sendo contraditório. Ele
não se orgulha de fazer do Brasil
um protagonista da política e da
economia internacionais, livrando-nos do complexo de vira-lata, assim
batizado por Nelson Rodrigues?
Então por que, em vez de preparar uma Copa exemplar, os responsáveis públicos e privados não fizeram praticamente nada desde
2007, quando o país foi escolhido
sede sem precisar sequer enfrentar
concorrentes? A resposta é: somos
idiotas. Um "bando de idiotas", para repetir a expressão usada por Lula anteontem.
Nessa primeira pessoa do plural,
claro, não está Lula, força da natureza que sobreviveu a mensalões
para, mesmo aliado à elite do fisiologismo nacional, deixar o posto
como o mais popular dos presidentes brasileiros.
Nem estão as empreiteiras e outros entes privados que apostam no
atraso para faturar mais e com menos trabalho, trocando as licitações
pelo urgente e patriótico chamado
dos governos.
Tampouco estão os ocupantes de
cargos públicos, que serão obrigados, coitados, a liberar verbas de
emergência para obras em estádios
e aeroportos, todas feitas por doadores de suas campanhas.
Idiotas somos os que pensávamos em receber algum benefício
social e vamos pagar uma conta de,
por enquanto, R$ 33 bilhões -quatro vezes o custo da Copa da África
do Sul.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O voto e o tabu Próximo Texto: Kenneth Maxwell: Tempos difíceis
Índice
|