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![]() São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Jogos, Lula e Kirchner
CESAR MAIA
A mudança de personagem ou de trama afeta a cooperação e não gera nova confiança: desestabiliza-se o jogo e perdem todos. O tempo político em governo não é suficiente para construir novas lealdades, mas o é para destruir as anteriores. Com isso, caminha-se para a ruptura. Mas, quando percebem isso, o político ou o partido racionalizam suas ações e correm de novo em direção ao jogo anterior. Para isso, precisam intensificar e ampliar os compromissos que tinham, emblematizando-os. E, então, desconstroem-se de uma vez por todas as novas relações de lealdade que pretendiam afirmar e não se tem tempo de reconstruir a confiança anterior dos eleitores. Nesse sentido, o único jogo que não leva à "catástrofe" é aquele em que a proposta de mudança é introduzida gradualmente, a partir da afirmação das lealdades anteriores. A decisão do governo Lula de priorizar sua credibilidade perante seus não-eleitores através da derrubada da inflação, utilizando os instrumentos que criticava, e de uma nova ortodoxia fiscal gera um caminho sem volta e uma recessão sem fim que, no máximo, pode ser alternada com bolhas de crescimento eventual. Quando descobrir que não ganhou a confiança dos outros e quiser retornar ao jogo da cooperação com seus eleitores de sempre, terá de rever os emblemas que criou e, nesse momento, desmontará a conjuntura. De certa forma, é o que está acontecendo até prematuramente. Se tivesse começado por uma maior flexibilidade monetária e fiscal -uma queda gradual da inflação, medidas, e não reformas- traria a valor presente os inevitáveis conflitos com essa poeira chamada mercado e poderia dosá-los pelos desdobramentos continentais de uma crise potencial, atraindo o outro "jogador" para uma cooperação forçada pelos riscos incorporados. Não o fez e não terá mais como fazê-lo. Terá de correr para o democratismo, o assistencialismo e o populismo. O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, jogou e está jogando absolutamente certo. Vencidas as eleições, correu em direção a seu eleitor, confirmou as lealdades, emblematizou as primeiras medidas e primeiros discursos, expôs os conflitos e estabeleceu um pacto de confiança. Assim, poderá gradualmente ir ajustando suas ações e medidas, readaptando as linhas de cooperação sem suspeita de traição, e, gradualmente também, atraindo para um ambiente intermediário os seus não-eleitores. Dependerá dos resultados, nessa dinâmica, possíveis. É verdade que a situação desarrumada da Argentina facilitou escolher o jogo certo, o que não lhe tira o mérito, pois, se extrapolarmos o jogo de Lula para lá, mais conservador ainda deveria ter sido Kirchner que ele mesmo. O jogo está jogado! Cesar Maia, 58, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Emerson Kapaz: Cobrar menos, arrecadar mais Índice |
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