São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Horário gratuito, versão PCC

SÃO PAULO - Para a interminável série "nunca neste país", a muleta que o presidente Lula usa para amparar sua pobre oratória: "nunca neste país" o crime organizado havia obtido o seu próprio horário eleitoral gratuito na televisão. Conseguiu-o ao seqüestrar o repórter Guilherme Portanova. Não é mera coincidência o "horário gratuito" do PCC ter ido ao ar apenas 48 horas antes de começar o horário gratuito, digamos, normal, se há algo normal por aqui. Afinal, o novo pico nas ações da criminalidade (novo por enquanto, porque logo, logo, será superado) acontece depois de 12 anos de governo do condomínio tucano-pefelê em São Paulo, de oito anos de FHC e mais quatro de Lula na União. E nem me venha algum simpatizante idiotizado da outra "quadrilha", aquela denunciada pelo procurador-geral da República, dizer que segurança pública é problema estadual apenas. O PCC, conforme atestou recente reportagem desta Folha, financia-se praticamente só com o narcotráfico, que é, digamos, crime federal. Fracassaram os dois grupos que dividem o poder no Brasil. Pior: continuam sem um projeto de país, porque tudo o que lhes interessa é ocupar o poder. Ponto. O tamanho do fracasso pode ser medido pelo fato de que a vítima indireta do seqüestro, a Rede Globo, se viu obrigada a consultar especialistas externos para decidir sua ação ante a chantagem do sindicato do crime. Não encontrou no país nem sequer a proteção de um conselho informado e, portanto, útil. Se a Globo, com o poder que tem, sentiu-se órfã, o que dizer dos pobres mortais submetidos cotidianamente a chantagens similares ou piores, dos parentes de outros seqüestrados (quantos continuam em poder de seqüestradores neste exato momento?) ou dos mortos na guerra que o poder público perde todos os dias?

crossi@uol.com.br


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