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ANTONIO DELFIM NETTO
Bravíssimo!
É preciso aplaudir a saudável e honesta dúvida manifestada na reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom) do
Banco Central realizada nos
dias 31/8 e 1º/9, em que se
manteve a Selic em 10,75%.
Nunca uma decisão do Copom
havia sofrido tanta crítica de
analistas contrariados com a
"desobediência" do Banco
Central às suas "científicas"
sugestões.
Ao contrário, pelo menos na
nossa opinião, a decisão revelou humildade e cuidado
diante da realidade (não de
sua idealização) até aqui insuspeitados no comportamento do Banco Central. A grande
novidade da ata é reconhecer,
publicamente, que a política
monetária não é uma ciência.
Bem lida e sem espírito religiosamente pré-concebido, essa
política mostra as suas graves
dificuldades.
1º) Todos sabemos que as
defasagens entre a implementação das variações da taxa
Selic (que o Banco Central fixa
e sustenta) e seus efeitos sobre
o nível de atividade e sobre a
taxa de inflação são amplamente variáveis. Pela primeira
vez, entretanto, somos surpreendidos com a afirmação
de que, "pelo aumento da potência (?) da política monetária", ela pode ser menor do
que cinco meses! Isso, talvez,
seja uma justificativa "ad hoc"
para o que pode ter sido um
equívoco recente do Banco
Central quando tomou a nuvem por Juno no aumento da
taxa de inflação.
2º) Reconhece que aperfeiçoamentos da política monetária "parecem ter determinado redução significativa da taxa neutra" (a taxa de juros real
que permite o uso da plena capacidade produtiva sem aumentar a taxa de inflação).
Acrescenta, aliás, um delicioso parágrafo: "Apesar de reconhecer que um elevado grau
de incerteza envolve o dimensionamento de VARIÁVEIS
NÃO OBSERVÁVEIS (ênfase
nossa), o Copom considera
que as estimativas mais pessimistas sobre o nível da atual
taxa de juro real neutra tendem, com probabilidade significativa, a não encontrar
amparo nos fundamentos".
3º) Reconhece que "há sinais de que a economia tem se
deslocado para uma trajetória
mais condizente com o equilíbrio de longo prazo (o "bancocentralês" para dizer que o
produto potencial cresceu) e,
assim, os efeitos das pressões
de demanda e do elevado nível de utilização dos fatores
sobre o balanço de riscos para
inflação tendem a arrefecer".
A clara admissão pública
dessas dificuldades revela um
enorme salto de qualidade na
política monetária do Banco
Central, à qual faltavam amadurecimento e humildade.
Ela é, na realidade, 90% de
arte e 10% de ciência. Cremos
que o dr. Meirelles e sua nova
equipe mereçam um "bravíssimo" por introjetarem nas
suas decisões a dúvida salvadora.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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