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EXCESSO E FALTA
Lideranças do futuro governo
já se vêem às voltas com as agruras de lidar com as limitações orçamentárias e com a polêmica em torno do impacto da alta da inflação sobre tais limitações. Nos últimos dias,
essas lideranças fizeram duas declarações questionáveis sobre esses temas. Ambas envolvem o reajuste do
salário mínimo e, curiosamente, enquanto uma delas parece pecar por
excesso de rigidez, a outra carrega
um excesso de maleabilidade.
O presidente nacional do PT afirmou ser uma temeridade financiar o
aumento do salário mínimo por
meio de "recursos inflacionários".
Ele não se referia à emissão de moeda -sem dúvida um meio insustentável de financiar gastos-, mas ao
aumento de receitas previstas no Orçamento provindo da reestimativa da
inflação projetada para 2003. Desde
que embasada em projeções sérias,
porém, essa não constitui uma fonte
"espúria" de recursos.
Na proposta orçamentária do Executivo, a receita tributária projetada
embute a expectativa de que em 2003
a inflação (medida pelo IGP-DI) será
de 6%. Em fins de agosto, quando a
proposta foi elaborada, essa taxa era
próxima à projeção média do mercado. Hoje o mercado espera inflação
em torno de 11% em 2003. É uma diferença relevante, que sugere que a
receita poderá ser bem maior do que
prevê a proposta do Executivo.
Já o exemplo de excessiva maleabilidade diz respeito à idéia de que o
reajuste do salário mínimo seja feito,
em 2003, em duas etapas, para minimizar seu impacto sobre o caixa da
Previdência. A proposta criaria um
precedente bastante incômodo.
A cultura da indexação de preços,
que a muito custo regrediu nos últimos anos, tem como um de seus
componentes a prática de reajustes
frequentes. A sinalização política
criada pelo aumento da frequência
dos reajustes do mínimo abriria espaço para que outros segmentos demandassem tratamento análogo.
As concessionárias de serviços públicos, por exemplo, que em geral
praticam reajustes anuais de tarifas,
poderiam reivindicar reajustes mais
frequentes. Neste caso, o que parece
recomendável é maior cautela, pois a
retomada de práticas de indexação
tornaria muito mais difícil e custosa
a superação do surto inflacionário
suscitado pela alta do dólar.
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