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APOSTASIA IRANIANA
Por blasfêmia e apostasia, um
tribunal iraniano condenou o
jornalista e professor Hashem Aghajari a receber 74 chibatadas, permanecer oito anos na prisão e finalmente ser executado. O "crime" de Aghajari foi ter defendido o fim da "obediência cega" aos decretos islâmicos.
Estudantes protestam há vários dias
em várias cidades pedindo a liberação do professor. Se o movimento
crescer, poderá precipitar reações da
ala mais conservadora dos aiatolás.
Aghajari é vítima da guerra de bastidores que há anos opõe reformistas
a conservadores. O professor é aliado do presidente reformista Mohammad Khatami. Isso basta para torná-lo inimigo dos conservadores, conduzidos pelo aiatolá Ali Khamenei.
Os reformistas controlam a Presidência e o Parlamento. Khatami obteve quase 80% dos votos no pleito de
junho de 2001, mas os conservadores
dominam o Judiciário e as Forças Armadas. Também supervisionam os
processos eleitorais e as práticas legislativas, o que lhes dá o poder de
vetar candidatos nos pleitos.
Aparentemente, nenhum dos lados
têm força para eliminar o outro, de
modo que a disputa pelo poder prossegue com ameaças e intimidações.
De vez em quando os reformistas
dão um passo considerado grande
demais pelos conservadores, que
respondem fechando um jornal ou
encarcerando um moderado. É nesse contexto que se dá a condenação à
morte de Aghajari, que poderá ser revertida pela Suprema Corte iraniana,
principalmente se houver entendimento entre o Executivo e os aiatolás.
Para alguns analistas, Khatami
conta resolver a disputa entre conservadores e reformistas apostando numa espécie de "abertura lenta, gradual e segura", isto é, uma aliança tácita com clérigos menos conservadores. Seria uma forma de evitar uma
guerra aberta entre os dois campos,
o que poderia arrastar o Irã -e por
consequência o Oriente Médio- para uma área de novas turbulências.
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