São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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APOSTASIA IRANIANA

Por blasfêmia e apostasia, um tribunal iraniano condenou o jornalista e professor Hashem Aghajari a receber 74 chibatadas, permanecer oito anos na prisão e finalmente ser executado. O "crime" de Aghajari foi ter defendido o fim da "obediência cega" aos decretos islâmicos. Estudantes protestam há vários dias em várias cidades pedindo a liberação do professor. Se o movimento crescer, poderá precipitar reações da ala mais conservadora dos aiatolás.
Aghajari é vítima da guerra de bastidores que há anos opõe reformistas a conservadores. O professor é aliado do presidente reformista Mohammad Khatami. Isso basta para torná-lo inimigo dos conservadores, conduzidos pelo aiatolá Ali Khamenei.
Os reformistas controlam a Presidência e o Parlamento. Khatami obteve quase 80% dos votos no pleito de junho de 2001, mas os conservadores dominam o Judiciário e as Forças Armadas. Também supervisionam os processos eleitorais e as práticas legislativas, o que lhes dá o poder de vetar candidatos nos pleitos.
Aparentemente, nenhum dos lados têm força para eliminar o outro, de modo que a disputa pelo poder prossegue com ameaças e intimidações. De vez em quando os reformistas dão um passo considerado grande demais pelos conservadores, que respondem fechando um jornal ou encarcerando um moderado. É nesse contexto que se dá a condenação à morte de Aghajari, que poderá ser revertida pela Suprema Corte iraniana, principalmente se houver entendimento entre o Executivo e os aiatolás.
Para alguns analistas, Khatami conta resolver a disputa entre conservadores e reformistas apostando numa espécie de "abertura lenta, gradual e segura", isto é, uma aliança tácita com clérigos menos conservadores. Seria uma forma de evitar uma guerra aberta entre os dois campos, o que poderia arrastar o Irã -e por consequência o Oriente Médio- para uma área de novas turbulências.


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