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FERNANDO RODRIGUES
A "política subprime"
BRASÍLIA - Cínicos, alguns deputados têm razão parcial ao argumentar que a fidelidade partidária
não pode ser absoluta. Ninguém está obrigado a sustentar as mesmas
idéias a vida inteira. A coerência
não é um valor intrinsecamente positivo. Menos pessoas teriam morrido na Segunda Guerra se Hitler tivesse mudado de opinião.
Mas o ponto não é esse. Os deputados e os vereadores no Brasil não
são eleitos individualmente nem
mudam de partido para salvar vidas. A "política subprime" de pular
de galho em galho obedece apenas
aos interesses pessoais de cada um.
Ganha um passeio guiado pelo Congresso quem apontar um deputado
cuja troca de legenda se deu por clamor de suas bases.
Uma discussão possível seria sobre a qualidade do sistema partidário-eleitoral. Por que não se pode
no Brasil eleger um deputado individualmente? Por que as legendas
se transformaram em sesmarias de
alguns poucos caciques com poder
de indicar quem serão os candidatos a cada pleito? Esse debate não
interessa aos deputados.
A mania no Congresso agora é
aprovar uma jabuticaba -nativa do
solo brasileiro- chamada "janela
de infidelidade". Uma vez a cada
quatro anos, por um mês, valerá tudo. Para o eleitor, será um "contrato
futuro de derivativo ideológico":
vota-se no deputado sem saber onde o político estará em três anos.
Essa bisonha "janela" é proposta
de um deputado comunista cujo
partido até recentemente admirava
a Albânia. Se aprovada, adicionará
uma modalidade extra de lei no
país. Hoje, há as leis que pegam e as
que não pegam. Passaremos a ter
também as que podem ser transgredidas por apenas 30 dias.
O presidente da Câmara, Arlindo
Chinaglia, tem como barrar a "janela". Seu legado ficará marcado pela
decisão. Poderá patrocinar o interesse dos eleitores ou incentivar a
"política subprime".
frodriguesbsb@uol.com.br
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