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MELCHIADES FILHO
Plano de saúde
BRASÍLIA - A imprensa ainda espera o desabafo que reproduza toda
a irritação que só os mais próximos
testemunharam até aqui. Que virá,
cedo ou tarde. Se Lula soltou a língua durante as negociações, por que
haveria de controlá-la agora?
Talvez seja precipitado, no entanto, apostar que o presidente fará
da derrota da CPMF um campo de
batalha e que ele não sossegará até
que os algozes do imposto sejam reconhecidos como vilões e o eleitorado sinta saudades do 0,38%.
Para jogar uma crise no colo da
oposição, o presidente teria, antes,
de decretar que existe uma crise.
Para culpar "demos" e tucanos
pelos efeitos danosos da extinção
da CPMF, teria, antes, de alertar a
platéia para esses efeitos danosos.
Parece um tanto improvável que
o Planalto, em busca de um discurso crível, opere para que juros, inflação e risco-país subam, desfalque
o Bolsa Família, eleve o Imposto de
Renda, feche restaurantes populares, esqueça investimentos na segurança, corte aposentadorias rurais,
acabe com internações e tratamentos de doentes crônicos e/ou faça
ajuste irracional de despesas.
(Todas essas "maldades" fizeram
parte das chantagens do governo no
mês que antecedeu a votação.)
Parece improvável, também, que
Lula abrace a agenda negativa. A
economia está bombando, com superávits, empregos e PIBão. Por
que chamar atenção para a situação
de mierda dos hospitais? Para dar o
troco em Arthur "Quem?" Virgílio?
A derrota no Senado foi dura. Desarranjou planos do governo. Mas
não terá a repercussão política que
se diz por aí. A coalizão anti-Lula
ruiu já na votação seguinte (DRU).
Mais provável é que o presidente
absorva a seu modo o revés, bote a
turma da Fazenda para formatar
um projeto decente que encha o
caixa da Saúde (e não a farsa contábil enviada de última hora ao Senado) e zele para que (somente) ele
seja reconhecido pelas inovações.
Até porque, se virar o "presidente
da saúde", a oposição se lasca.
mfilho@folhasp.com.br
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