São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Às vésperas dos 450 anos

MILÚ VILLELA

São Paulo vive um contagiante momento de euforia com tantos preparativos para as comemorações dos seus 450 anos. Uma atmosfera de muito entusiasmo, que vai transformar a cidade numa festa inesquecível, com toda a certeza, no dia 25 de janeiro, data do aniversário.
Quarta maior metrópole do planeta, com uma população de 10,4 milhões de habitantes, capital financeira e cultural do país, São Paulo é uma das mais ecléticas capitais da gastronomia mundial, com mais de 12 mil restaurantes. Centro estratégico da economia do Mercosul, é uma cidade que fervilha com o turismo de negócios.
Nesse momento de festa, é sempre oportuno resgatar os incontáveis títulos e honrarias de São Paulo, que tem uma das melhores infra-estruturas urbanas do mundo.


Precisamos canalizar esse clima de festa para uma fé inabalável na nossa responsabilidade social mais sincera e atuante


A universalidade do Brasil está sempre a exibir a sua face mais cosmopolita nessa atmosfera multicultural paulistana que, há três séculos, vem recriando o legado de tantas imigrações e de tantas culturas regionais dos quatro cantos do país.
Essa nossa paulicéia deslumbrante tem o semblante do mundo inteiro. São portugueses, italianos, espanhóis, japoneses, alemães, judeus, poloneses, argentinos, chilenos, bolivianos, uruguaios, chineses e coreanos, entre dezenas de culturas estrangeiras, que em São Paulo inauguraram um Brasil genuinamente cosmopolita e urbano.
Como em nenhum outro lugar deste país, São Paulo é onde o Brasil é menos estereotipado, menos folclorizado, tão forte é a cultura urbana dessa cidade.
Ainda focalizando a face multicultural paulistana, podemos afirmar que é a maior cidade espanhola fora da Espanha e ainda a maior cidade portuguesa fora de Portugal. São Paulo é a terceira maior cidade italiana fora da Itália e também a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano.
Em São Paulo tudo é gigantismo e, há tanto tempo, todos que aqui trabalham vêm impulsionando o desenvolvimento industrial e comercial de todo o país.
Além de toda a contribuição dos estrangeiros de mais de 60 países, o desenvolvimento econômico de São Paulo foi alavancado pela garra dos milhões de migrantes de todo o país, principalmente mineiros e nordestinos. Na mesa paulistana, pratos apimentados baianos convivem com pão de queijo e doce de leite mineiro, churrasco com cuscuz nordestino e feijão de corda.
A rica brasilidade do paulistano também tem um certo sotaque da cultura caipira e um eterno espírito bandeirante, fundamental na construção das nossas riquezas e na redefinição das fronteiras do nosso país.
O clima de festa será ainda mais contagiante durante o Carnaval, quando a cidade será tema do enredo de escolas de samba. São Paulo também está sendo homenageada em grande estilo pela Rede Globo, com a minissérie escrita por Maria Adelaide Amaral, sobre a Semana de 22. No exterior, diga-se de passagem, os principais críticos de arte consideram a Semana de Arte Moderna de 22 o mais importante acontecimento cultural de toda a história do Brasil.
Não podemos, porém, deixar que essa euforia acabe logo após a festa de comemoração dos 450 anos de São Paulo.
Precisamos lutar para que toda essa energia permaneça por muitos e muitos anos. Precisamos canalizar esse clima de festa para uma fé inabalável na nossa responsabilidade social mais sincera e atuante. São Paulo tem muitos contrastes, e precisamos criar uma corrente de ações solidárias para que possamos reverter essa situação.
Os momentos de celebração sempre podem trazer novas esperanças, um novo alento para superarmos as desigualdades sociais e vivermos num mundo mais digno e justo. O aniversário dos 450 anos de São Paulo é uma excelente oportunidade para fazermos uma auto-avaliação da nossa participação na melhoria da qualidade de vida da nossa cidade e do nosso país.

Milú Villela, 57, empresária, é presidente do Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.


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