São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Às vésperas dos 450 anos
MILÚ VILLELA
A universalidade do Brasil está sempre a exibir a sua face mais cosmopolita nessa atmosfera multicultural paulistana que, há três séculos, vem recriando o legado de tantas imigrações e de tantas culturas regionais dos quatro cantos do país. Essa nossa paulicéia deslumbrante tem o semblante do mundo inteiro. São portugueses, italianos, espanhóis, japoneses, alemães, judeus, poloneses, argentinos, chilenos, bolivianos, uruguaios, chineses e coreanos, entre dezenas de culturas estrangeiras, que em São Paulo inauguraram um Brasil genuinamente cosmopolita e urbano. Como em nenhum outro lugar deste país, São Paulo é onde o Brasil é menos estereotipado, menos folclorizado, tão forte é a cultura urbana dessa cidade. Ainda focalizando a face multicultural paulistana, podemos afirmar que é a maior cidade espanhola fora da Espanha e ainda a maior cidade portuguesa fora de Portugal. São Paulo é a terceira maior cidade italiana fora da Itália e também a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano. Em São Paulo tudo é gigantismo e, há tanto tempo, todos que aqui trabalham vêm impulsionando o desenvolvimento industrial e comercial de todo o país. Além de toda a contribuição dos estrangeiros de mais de 60 países, o desenvolvimento econômico de São Paulo foi alavancado pela garra dos milhões de migrantes de todo o país, principalmente mineiros e nordestinos. Na mesa paulistana, pratos apimentados baianos convivem com pão de queijo e doce de leite mineiro, churrasco com cuscuz nordestino e feijão de corda. A rica brasilidade do paulistano também tem um certo sotaque da cultura caipira e um eterno espírito bandeirante, fundamental na construção das nossas riquezas e na redefinição das fronteiras do nosso país. O clima de festa será ainda mais contagiante durante o Carnaval, quando a cidade será tema do enredo de escolas de samba. São Paulo também está sendo homenageada em grande estilo pela Rede Globo, com a minissérie escrita por Maria Adelaide Amaral, sobre a Semana de 22. No exterior, diga-se de passagem, os principais críticos de arte consideram a Semana de Arte Moderna de 22 o mais importante acontecimento cultural de toda a história do Brasil. Não podemos, porém, deixar que essa euforia acabe logo após a festa de comemoração dos 450 anos de São Paulo. Precisamos lutar para que toda essa energia permaneça por muitos e muitos anos. Precisamos canalizar esse clima de festa para uma fé inabalável na nossa responsabilidade social mais sincera e atuante. São Paulo tem muitos contrastes, e precisamos criar uma corrente de ações solidárias para que possamos reverter essa situação. Os momentos de celebração sempre podem trazer novas esperanças, um novo alento para superarmos as desigualdades sociais e vivermos num mundo mais digno e justo. O aniversário dos 450 anos de São Paulo é uma excelente oportunidade para fazermos uma auto-avaliação da nossa participação na melhoria da qualidade de vida da nossa cidade e do nosso país. Milú Villela, 57, empresária, é presidente do Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ricardo Tripoli: Sofismas e o rio Pinheiros Índice |
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