São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O trambique antecede a lei

SÃO PAULO - Há um antigo ditado que ouvi pela primeira vez em Buenos Aires, o que não quer dizer que seja argentino. É o seguinte: "Hecha la ley, hecha la trampa".
Em tradução absolutamente livre, quer dizer: "Faz-se uma lei e imediatamente se faz também a burla a ela".
O Brasil dos tempos que correm aperfeiçoou a malandragem: faz-se a "trampa" antes mesmo de se fazer a lei. Ou, no caso, é modificada a lei para tornar legal a "trampa".
É óbvio que estou me referindo à compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar). A lei vigente proíbe o negócio, mas ele já está tão sacramentado que as ações de ambas as companhias tiveram espetacular valorização nos últimos dias, conforme relato de Fabricio Vieira na Folha de ontem.
Ou seja, há um trambique publicamente em curso, na medida em que a operação é, hoje, ilegal, mas ninguém liga a mínima, porque todo o mundo sabe que o governo vai dar um jeitinho na lei para que a burla deixe de sê-lo. Em qualquer país minimamente sério, uma operação desse gênero provocaria tremendo escândalo.
Em países não tão sérios, seria feita no escurinho. No Brasil, a acomodação da lei aos fatos se dá em plena luz do dia.
E fica por isso mesmo.
É apenas mais um dos incontáveis exemplos de como o lulo-petismo copia todos os métodos, bons ou ruins, do tucanato. Lembra-se de que, na privatização das teles, os principais operadores foram flagrados em uma gravação dizendo que o governo estava agindo "no limite da irresponsabilidade"?
É razoável dizer que, agora, superou-se o limite com a maior sem-cerimônia. Nem é preciso uma gravação clandestina para comprová-lo.
Para se referir à privatização das teles, Elio Gaspari cunhou a expressão "privataria". Que neologismo usar agora, caro Elio?


crossi@uol.com.br

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