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CLÓVIS ROSSI
O trambique antecede a lei
SÃO PAULO - Há um antigo ditado
que ouvi pela primeira vez em Buenos Aires, o que não quer dizer que
seja argentino. É o seguinte: "Hecha la ley, hecha la trampa".
Em tradução absolutamente livre, quer dizer: "Faz-se uma lei e
imediatamente se faz também a
burla a ela".
O Brasil dos tempos que correm
aperfeiçoou a malandragem: faz-se
a "trampa" antes mesmo de se fazer
a lei. Ou, no caso, é modificada a lei
para tornar legal a "trampa".
É óbvio que estou me referindo à
compra da Brasil Telecom pela Oi
(ex-Telemar). A lei vigente proíbe o
negócio, mas ele já está tão sacramentado que as ações de ambas as
companhias tiveram espetacular
valorização nos últimos dias, conforme relato de Fabricio Vieira na
Folha de ontem.
Ou seja, há um trambique publicamente em curso, na medida em
que a operação é, hoje, ilegal, mas
ninguém liga a mínima, porque todo o mundo sabe que o governo vai
dar um jeitinho na lei para que a
burla deixe de sê-lo.
Em qualquer país minimamente
sério, uma operação desse gênero
provocaria tremendo escândalo.
Em países não tão sérios, seria feita
no escurinho. No Brasil, a acomodação da lei aos fatos se dá em plena
luz do dia.
E fica por isso mesmo.
É apenas mais um dos incontáveis exemplos de como o lulo-petismo copia todos os métodos, bons ou
ruins, do tucanato. Lembra-se de
que, na privatização das teles, os
principais operadores foram flagrados em uma gravação dizendo que o
governo estava agindo "no limite da
irresponsabilidade"?
É razoável dizer que, agora, superou-se o limite com a maior sem-cerimônia. Nem é preciso uma gravação clandestina para comprová-lo.
Para se referir à privatização das teles, Elio Gaspari cunhou a expressão "privataria". Que neologismo
usar agora, caro Elio?
crossi@uol.com.br
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