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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Um novo mundo, mas qual?

TÓQUIO - Foi o dia de gigantescas marchas no mundo todo contra a guerra. Mas foi sobretudo o dia em que renasceu o mal chamado movimento antiglobalização, colocado na defensiva após o 11 de setembro.
A motivação pode até ser diferente, mas o caldo de cultura que embalou os protestos de antes e os de ontem é o mesmo: a forte rejeição ao que o movimento designa como "globalização a favor das corporações, e não da sociedade". Os EUA, campeões do belicismo no momento, são também o navio-insígnia desse tipo de globalização, com o que se chega à gênese comum entre os protestos.
A grande diferença, no entanto, é que o alvo do protesto cindiu-se. Antes, Gerhard Schröder, o premiê alemão, e Jacques Chirac, o presidente francês, para citar apenas os líderes mais emblemáticos, estavam ao lado de Bill Clinton, primeiro, e de George W. Bush, como alvos dos protestos.
Hoje, Schröder e Chirac são alvo, sim, mas de Bush e de uma direita norte-americana que parecem absurdamente incapazes de distinguir uma crítica natural em ambientes democráticos do antinorte-americanismo que vêem em toda parte.
Não que não exista ódio aos Estados Unidos. Mas criticar a guerra não significa necessariamente aderir a ele, do que dá prova o fato de que 59% dos próprios norte-americanos acham que Bush deveria dar mais tempo para as inspeções das Nações Unidas, exatamente a posição defendida por Chirac e Schröder.
Seria puro delírio incluir esses 59% entre os que estão contra os Estados Unidos -seguindo assim a tese Bush de que quem não está com os EUA incondicionalmente está contra e pagará um preço por isso.
As coisas são infinitamente mais complexas do que essa primitiva divisão entre mocinhos e bandidos. É perigoso para o planeta que o comando da única superpotência remanescente não saiba ou não queira decodificá-las de maneira um pouco mais inteligente pelo menos.



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