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CLÓVIS ROSSI
Um novo mundo, mas qual?
TÓQUIO - Foi o dia de gigantescas marchas no mundo todo contra a
guerra. Mas foi sobretudo o dia em
que renasceu o mal chamado movimento antiglobalização, colocado na
defensiva após o 11 de setembro.
A motivação pode até ser diferente,
mas o caldo de cultura que embalou
os protestos de antes e os de ontem é o
mesmo: a forte rejeição ao que o movimento designa como "globalização
a favor das corporações, e não da sociedade". Os EUA, campeões do belicismo no momento, são também o
navio-insígnia desse tipo de globalização, com o que se chega à gênese
comum entre os protestos.
A grande diferença, no entanto, é
que o alvo do protesto cindiu-se. Antes, Gerhard Schröder, o premiê alemão, e Jacques Chirac, o presidente
francês, para citar apenas os líderes
mais emblemáticos, estavam ao lado
de Bill Clinton, primeiro, e de George
W. Bush, como alvos dos protestos.
Hoje, Schröder e Chirac são alvo,
sim, mas de Bush e de uma direita
norte-americana que parecem absurdamente incapazes de distinguir
uma crítica natural em ambientes
democráticos do antinorte-americanismo que vêem em toda parte.
Não que não exista ódio aos Estados Unidos. Mas criticar a guerra
não significa necessariamente aderir
a ele, do que dá prova o fato de que
59% dos próprios norte-americanos
acham que Bush deveria dar mais
tempo para as inspeções das Nações
Unidas, exatamente a posição defendida por Chirac e Schröder.
Seria puro delírio incluir esses 59%
entre os que estão contra os Estados
Unidos -seguindo assim a tese Bush
de que quem não está com os EUA
incondicionalmente está contra e pagará um preço por isso.
As coisas são infinitamente mais
complexas do que essa primitiva divisão entre mocinhos e bandidos. É
perigoso para o planeta que o comando da única superpotência remanescente não saiba ou não queira
decodificá-las de maneira um pouco
mais inteligente pelo menos.
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