São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

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PERIGO NUCLEAR

A proliferação de armas nucleares, colocada em evidência pela recente admissão de parte do cientista nuclear paquistanês Abdul Qadeer Khan de que ele vendia segredos atômicos e equipamentos a países como o Irã e a Coréia do Norte, é sem sombra de dúvida um problema para a segurança mundial. Há vários tipos de risco de diferentes níveis. A perspectiva mais ameaçadora é a de que grupos terroristas como a Al Qaeda consigam apoderar-se de artefatos nucleares. Inspiram especial temor os hoje precariamente guardados arsenais da antiga URSS.
Bem mais complexa é a questão da proliferação entre países. Diferentemente de uma Al Qaeda, que provavelmente usaria esse tipo de armamento, nações podem desejar conservar bombas nucleares como elemento de dissuasão, isto é, sem a intenção de usá-las ofensivamente. Não é demais recordar que o chamado equilíbrio do terror, isto é, os grandes arsenais mantidos pelos EUA e pela URSS durante a Guerra Fria, asseguraram quatro décadas de relativa estabilidade mundial.
Mesmo Estados que vivem em situação de beligerância permanente, como Índia, Paquistão e Israel, e que mantêm bombas atômicas resistem já há vários anos em utilizá-las. O problema da lógica nuclear é que ela tende a estabelecer uma corrida armamentista. Como Israel possui artefatos, seus inimigos árabes sentem-se também no direito de desenvolvê-los. Desnecessário dizer que, quanto maior a proliferação nuclear, maiores os riscos de uma catástrofe, intencional ou mesmo acidental.
A forma que o mundo encontrou para equacionar o problema, o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, deixa muito a desejar. Esse documento pretende criar duas categorias de países, os com direito a possuir armamento (EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) e os sem esse direito. E, mesmo estabelecendo essa distinção filosoficamente insustentável, esse tratado não impediu que Índia, Paquistão e Israel construíssem suas bombas.
Por mais irrealista que pareça, apenas um plano que preveja a eliminação total de armas nucleares conseguirá afastar o espectro de uma nova hecatombe atômica.



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