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FERNANDO RODRIGUES
Ciclo político padrão
BRASÍLIA - O caso do assessor do ministro José Dirceu pedindo propina a
um bicheiro exemplifica a padronização do ciclo político no Brasil.
O primeiro ano de governo é sempre preservado, não importa quem
seja o presidente. O escândalo atual é
de 2002. Apareceu agora, quase 14
meses depois da posse de Lula.
Crise instalada, há um roteiro padrão a ser seguido. Primeiro, vem a
demissão do envolvido.
Em seguida, governo e oposição fazem um jogo de empurra. O Planalto
afirma ter sido apanhado de surpresa. Diz que a Polícia Federal e o Ministério Público cuidarão do assunto.
A oposição começa a coletar assinaturas para uma CPI.
O terceiro capítulo da novela tem a
ajuda da mídia chapa-branca. Alguns noticiários de TV evitam dizer,
orwellianamente, que o assessor demitido era ligado ao ministro José
Dirceu. No Congresso, o Planalto
pratica fisiologia. Impede a instalação de uma CPI. O tempo trabalha a
favor da operação abafa.
O "script" pode ter uma ou outra
alteração. Por exemplo, se o demitido
resolver desandar a falar (improvável), outras fitas aparecerem (incerto) ou provas documentais surgirem
(intangível). No final, o óbvio. Um
governo mais fraco, com cicatrizes,
segue em frente.
Esse processo consume semanas ou
meses. Depende dos fatores imponderáveis já citados. FHC protagonizou
os casos Sivam, compra de votos da
reeleição, Telebrás. Lula está começando. Também haverá turbulências
na economia. O tucano teve as crises
de Rússia, México e Ásia. O petista
enfrentará a inexorável alta da taxa
de juros dos EUA -cedo ou tarde.
Esse ciclo político padronizado dá
aos presidentes brasileiros só um ano
de muita força, o primeiro, ao assumirem o cargo. Fazem o que querem.
FHC quebrou os monopólios estatais.
Lula reformou a Previdência. Depois,
administram crises. Uma alternativa
a esse calendário perverso é a saída
para o Brasil. Nenhum político chegou perto disso, Lula incluso.
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