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Inflação de afilhados
Na contramão do que exige a administração moderna, cargos de indicação política só fazem crescer no país
IMPESSOALIDADE, legalidade,
moralidade, publicidade e
eficiência são princípios da
administração pública em
todas as democracias modernas.
Embora a Constituição brasileira os tenha consagrado há mais
de 20 anos, o que gerou a expectativa de que chagas entranhadas
na cultura política do país, como
o empreguismo, seriam paulatinamente superadas, surgem sinais preocupantes de retrocesso.
O costume de nomear apaniguados, de dentro ou de fora da
administração, para cargos de
confiança só fez alastrar-se nos
últimos cinco anos. Para cada
100 postos desse gênero que
existiam no início de 2004, nas
esferas municipal, estadual e federal, há 132 hoje.
A inflação de afilhados, revelada ontem pela Folha, foi tão
avassaladora que superou o ritmo de crescimento dos servidores concursados no período. Em
razão disso, aumentou a participação dos chamados cargos comissionados no conjunto do
funcionalismo nacional. Em cinco anos, servidores nomeados
por padrinhos passaram de 7,9%
a 8,8% nos municípios, de 5% a
6% nos Estados e de 3,5% a 3,8%
na administração federal.
Alguns dados mais específicos
são espantosos. Em Tocantins,
quatro em cada dez servidores
públicos do Estado são comissionados. No Brasil, mais da metade dos postos estaduais preenchidos por indicação política
nem sequer exige que o afilhado
seja funcionário público regular.
Como se sabe, a prática do apadrinhamento promove diversos
vícios. A corrupção, o financiamento ilegal de campanhas, o
desvio de função de servidores e
as negociatas entre Executivo e
Legislativo são alguns deles. Ao
expor a burocracia governamental a manipulações interesseiras,
a indicação política compromete
a eficiência e a universalidade na
prestação de serviços públicos.
O escândalo do mensalão, em
2005, foi um desfile quase pedagógico das mazelas do apadrinhamento. Autoridades federais
chegaram, então, a comprometer-se com um corte drástico nos
cargos de confiança. Tratavam
apenas, como comprovam os dados, de iludir o público.
Agora a ideia ressurge, sob o
patrocínio do ministro Roberto
Mangabeira Unger, incumbido
pelo governo Lula das ações de
prazo longo -e credibilidade
baixa. A sugestão é clássica e já
deveria ter sido implantada:
substituir a grande maioria dos
comissionados por profissionais
escolhidos com base no mérito.
Mas é preciso, igualmente,
romper o equívoco que se formou no Brasil acerca do concurso público de admissão. Ele deve
ser encarado como apenas a primeira prova objetiva de competência, entre várias outras a que
um servidor precisa regularmente se submeter para que tenha direito a promoções, bônus
e estabilidade no emprego.
Um quadro constituído por
profissionais que passam num
concurso e depois nunca mais
são cobrados tende a prestar serviços de péssima qualidade.
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