São Paulo, segunda, 16 de fevereiro de 1998

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COMPUTADOR PARA QUEM?

Poucos ousariam negar a importância geral da informática como instrumento facilitador do acesso à informação e da organização de dados. Sendo a escola a instituição por excelência dedicada à instrução, é natural supor que as novas tecnologias lhe possam ser de grande valia.
Parece, pois, justificável a preocupação do Ministério da Educação em informatizar a rede pública de ensino. O Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo) prevê a instalação, em caráter experimental, de 100 mil computadores em 6.000 escolas, a um custo de R$ 480 milhões -equivalente a 5% do orçamento dessa pasta em 1997.
O programa, aliás, é compatível com diretrizes recentemente divulgadas do ministério para o ensino médio, que recomendam a valorização de aspectos práticos dos conhecimentos que serão desenvolvidos junto aos alunos.
Fazer da informática mais um instrumento pedagógico poderá assim habilitar os alunos a atender a uma das mais inequívocas demandas do mercado de trabalho no momento.
A iniciativa, porém, deve ser vista com reservas. O governo federal afirma ter como meta durante este ano treinar 25 mil professores para o uso adequado dos computadores. Aí talvez esteja o nó górdio do programa. E o sucesso da inovação dependerá, em larga medida, da tenacidade com que se procure desatá-lo.
Não raramente mal preparada até mesmo para o uso dos instrumentos pedagógicos tradicionais e por vezes ainda presa a práticas arcaicas, parte considerável do professorado previsivelmente resistirá à inovação. Se não for superada essa possível resistência, a massa de milhares de computadores subutilizados não passará de um triste elefante branco.
O senso comum tende a acreditar que certas máquinas, sobretudo o computador, "fazem tudo pelo homem". Até o momento, porém, nenhuma delas, é óbvio, revelou ser útil independentemente da destreza de quem as manipula. Que o Ministério da Educação não se mostre presa fácil desse fetiche sedutor.



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