São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Espanha, atentado e eleições
"Como centenas de espanhóis, estive presente à missa de anteontem na igreja Santo Agostinho, em São Paulo, em homenagem às vítimas dos atentados de 11 de março. Chamou-me a atenção uma declaração feita pelo cônsul espanhol: "Este é um ato de guerra sem precedentes contra a Espanha". É uma meia verdade. Trata-se, sim, de resposta a uma guerra mentirosa e injusta. A Espanha apoiou os EUA e o Reino Unido no ataque ao Iraque sem o aval da comunidade internacional, assumindo um protagonismo político que fez do país alvo dos terroristas. Sou espanhol e, anteontem, chorei a morte dessas pessoas inocentes em Madri. Mas, na igreja, pensei na aflição de milhares de iraquianos que continuam morrendo por culpa dos ataques da "coalizão". Lembro também que o povo espanhol se opôs radicalmente a essa agressão; pesquisas mostraram que 90% não queriam que a Espanha entrasse na guerra. Por sua triste aventura bélica, Aznar pagou um preço político caro, mas as vítimas pagaram com a própria vida."
Pablo López Guelli (São Paulo, SP)

 

"A reviravolta do eleitorado espanhol deu ao terror islâmico sua maior vitória até agora. Demonstrou que seus métodos podem, sim, dar resultados. Curioso também que a invasão do Iraque tenha sido citada como um dos motivos para o atentado; se havia um país onde o povo islâmico era oprimido (xiitas em particular), esse país era o Iraque sob Saddam."
César Gorresen Fricks (São Paulo, SP)

Bingos
"Não conseguimos compreender o objetivo da reportagem "Número de empregos em bingos é inflado", das repórteres Claudia Rolli e Fátima Fernandes, publicada ontem no caderno Dinheiro (página B1). Ela afirma que o número real de trabalhadores em bingos que perderiam seus empregos seria 60% do total divulgado pela Força Sindical e pelas associações da categoria. Ainda que seja verdade, o fato não deixa de surpreender. Afinal, por trás da frieza das estatísticas, há pais de família, seres humanos com direito a emprego e vida digna. Para efeito de comparação, o número de trabalhadores em casas de bingo que a Folha aponta como correto é maior ou, no mínimo, semelhante ao de jornalistas (34.028) no país todo. Isso significa que o fechamento das casas de bingo acabará com mais empregos do que se fossem fechados todos os jornais, revistas, canais de TV e sites noticiosos no país. A Força Sindical luta para que sejam mantidos e gerados empregos neste país. Comemoramos com a mesma intensidade quando conquistamos uma vaga ou 1 milhão de vagas."
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical (São Paulo, SP)

 

"Considerando que, segundo a Folha, o número de empregos no setor de bingos não chega a 72 mil, seria interessante que o jornal apurasse quantos milhares de pessoas viciadas (ou não) no jogo perdem todo dia o seu dinheiro. Assim, poderemos avaliar se o impacto negativo é maior na perda desses empregos ou na situação dos "devedores" dos bingos."
Dalton P. Lenhart (Florianópolis, SC)

1964, 40 anos
"Em entrevista à Folha (Brasil de 13/3, pág. A9), o historiador Marco Antonio Villa afirma que "em 1964 a democracia tinha muitos inimigos". De todos os lados (militares, Brizola, Jango) encontravam-se projetos golpistas. Com esse tipo de argumento, ficam atenuadas as responsabilidades da direita brasileira pelo golpe de 1964, planejado e realizado pelo empresariado nacional e por setores "duros" das Forças Armadas (com apoio ostensivo da administração de Lyndon Johnson). Afinal, todo mundo era golpista... As esquerdas nacionalistas no pré-64, de fato, produziram muitas bravatas ("poder do dispositivo militar de Jango", "grupo dos 11" de Brizola, "quarto poder" do CGT ou das Ligas Camponesas etc.), mas, 40 anos após o evento, não existem evidências de que setores da esquerda estivessem prestes a assaltar o poder via golpe de Estado. Espera-se que o anunciado livro do historiador demonstre o que insinua na entrevista."
Caio Navarro de Toledo, professor da Unicamp (São Paulo, SP)

Ciência no Brasil
"As "viúvas" do falido patronato científico brasileiro continuam com a mesma retórica oligárquica. Se queremos saber como são os gastos no Congresso, podemos; isso é democracia. Se queremos saber como as universidades gastam o dinheiro público, isso não pode, porque é "ciência". Erram os que acham que isso é interferência externa na universidade. É zelo do dono, o povo. Se as universidades fossem mantidas exclusivamente com capital privado, seria diferente?"
Heliton Rocha (Valinhos, SP)
Eleição na ABL
"A reportagem sobre as eleições de 11/3 na Academia Brasileira de Letras (Brasil, pág. A10, 12/3) afirma ter sido esta minha segunda disputa. Trata-se de uma incorreção: foi a primeira vez. Na disputa da vaga aberta pelo falecimento de Barbosa Lima Sobrinho, cheguei a me inscrever, mas retirei minha carta pouco depois para que, na eleição, o grande Raymundo Faoro alcançasse a unanimidade. Não participei da disputa, que não houve. Apesar de ter obtido votação expressiva, perdi nesta tentativa para o professor José Murilo de Carvalho, cujos méritos reconheço. Ele será um grande acadêmico; honrará as tradições da cadeira 5 e, muito especialmente, da grande antecessora Rachel de Queiroz."
Mauro Salles (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Leia abaixo a seção "Erramos".

A TV e os jovens
"Nunca uma reportagem me ensinou tantas coisas quanto a publicada na capa da Ilustrada de ontem. Ali são arroladas as dez grandes exigências dos pais para os programas de TV vistos por crianças e adolescentes. Segundo a pesquisa, os entrevistados querem, por exemplo, que os programas "transmitam preceitos éticos" e "não banalizem a sexualidade". Logo abaixo vêm os índices de audiência infanto-juvenil da programação, mostrando que há mais crianças vendo TV entre as 20h e as 23h do que pela manhã e à tarde; sua audiência também é maior nos horários reservados a programas desaconselhados pelo Ministério da Justiça do que durante os livres. Eis aí tudo o que eu precisava saber sobre a eficácia da intervenção do ministério. Como não creio que a molecada assista à TV de noite em segredo, chego a três hipóteses: ou, contrariando a classificação do governo, os pais julgam que as novelas e o "Big Brother" atendem muito bem àquelas exigências; ou eles não dão toda essa importância aos quesitos da sua lista; ou, enfim, são tão molengas e covardes que não conseguem dizer aos filhos que saiam da frente da TV e vão fazer outra coisa, como ir dormir."
Guilherme de Oliveira Quandt (Florianópolis, SC)


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