São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A credibilidade no ralo

BRUXELAS - Não fosse o custo dessa história para brasileiros inocentes, daria vontade de dizer "bem feito" como reação ao fato de o grupo financeiro JP Morgan ter anunciado que estava rebaixando a cotação dos títulos brasileiros.
Com isso vem abaixo toda a argumentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ambos disseram, uma e outra vez, que a mofina política econômica que adotaram devolvera "credibilidade" ao Brasil e levara à redução de indicadores como o risco-país e à queda na cotação do dólar.
Tolice. Não houve recuperação de credibilidade. Houve apenas submissão à vontade dos "mercados", que, agora, por meio de uma de suas mais potentes grifes, dá uma solene banana para Lula, Palocci e cia. e faz subir o risco-país e o dólar e cair a Bolsa de Valores.
É fundamental notar que tal movimento se deu sem que tivesse havido nenhuma modificação de fundo na política econômica.
É, acima de tudo, uma manobra preventiva: como os Estados Unidos parecem condenados a aumentar seus juros para segurar uma incipiente inflação, o Brasil, de credibilidade supostamente recuperada, volta a ficar menos atraente do que os próprios EUA.
Se a jogada se faz antes de subirem os juros norte-americanos, não é difícil antever o que acontecerá quando eles de fato aumentarem.
Não foi por falta de aviso. Muita gente que o PT respeitava, antes de se tornar governo e de mudar diametralmente de posição, dizia que se tornar refém dos mercados era acorrentar-se a ele perpetuamente.
Na hora em que o governo quisesse adotar qualquer outra política, seria imediatamente punido pelos agentes financeiros.
Para estes, credibilidade nunca é para sempre. É preciso entregar às piranhas a cota diária de sangue.


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