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CLÓVIS ROSSI
A credibilidade no ralo
BRUXELAS - Não fosse o custo dessa história para brasileiros inocentes,
daria vontade de dizer "bem feito"
como reação ao fato de o grupo financeiro JP Morgan ter anunciado
que estava rebaixando a cotação dos
títulos brasileiros.
Com isso vem abaixo toda a argumentação do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e de seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ambos disseram, uma e outra vez, que a mofina
política econômica que adotaram devolvera "credibilidade" ao Brasil e levara à redução de indicadores como
o risco-país e à queda na cotação do
dólar.
Tolice. Não houve recuperação de
credibilidade. Houve apenas submissão à vontade dos "mercados", que,
agora, por meio de uma de suas mais
potentes grifes, dá uma solene banana para Lula, Palocci e cia. e faz subir
o risco-país e o dólar e cair a Bolsa de
Valores.
É fundamental notar que tal movimento se deu sem que tivesse havido
nenhuma modificação de fundo na
política econômica.
É, acima de tudo, uma manobra
preventiva: como os Estados Unidos
parecem condenados a aumentar
seus juros para segurar uma incipiente inflação, o Brasil, de credibilidade supostamente recuperada, volta a ficar menos atraente do que os
próprios EUA.
Se a jogada se faz antes de subirem
os juros norte-americanos, não é difícil antever o que acontecerá quando
eles de fato aumentarem.
Não foi por falta de aviso. Muita
gente que o PT respeitava, antes de se
tornar governo e de mudar diametralmente de posição, dizia que se
tornar refém dos mercados era acorrentar-se a ele perpetuamente.
Na hora em que o governo quisesse
adotar qualquer outra política, seria
imediatamente punido pelos agentes
financeiros.
Para estes, credibilidade nunca é
para sempre. É preciso entregar às piranhas a cota diária de sangue.
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