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CLAUDIA ANTUNES
O longo prazo acabou
RIO DE JANEIRO - Os jornais do Rio estão repletos de declarações de urbanistas, de sociólogos e de analistas de
especialidades diversas sugerindo
medidas para combater a violência
relacionada ao narcotráfico, que se
encastelou em morros da cidade e vira a emergência nacional da hora
quando transborda para o asfalto,
como aconteceu agora na Rocinha.
Deter o tráfico de armas, expurgar e
educar a polícia violenta e corrupta,
investir em formação e meios técnicos para melhorar o trabalho investigativo, reter os jovens na escola, promover campanhas contra o uso de
drogas, construir novos presídios para isolar os chefes do tráfico. São em
sua maioria idéias tão recorrentes
quanto sensatas, às quais ninguém
bem-intencionado poderia se opor.
Mas, como reconhecem seus defensores, são propostas que, mesmo que
seu financiamento fosse logo viabilizado, teriam efeito a médio e a longo
prazo. E a sensação no Brasil é que o
longo prazo acabou. Resolver aqui
qualquer problema social visto de
forma isolada -da violência urbana
aos conflitos no campo- é como soldar os vagões de um trem em movimento, levado célere para o abismo
por todas as demais variáveis.
Nossos governos gastam e são instados a gastar cada vez mais para combater sintomas. Foram condenados a
atuar como bombeiros em atividade
frenética e variada porque eles e os
que detêm poder na sociedade são incapazes de atacar as causas de sua
desagregação -a renda ultraconcentrada, o mercado de trabalho precário, a falta de emprego e de salário
que cria o exército de reserva, seja para os acampamentos do MST ou para
a marginalidade.
O absurdo da situação brasileira é
tão grande que, enquanto é pressionado pelos Estados a liberar mais
verbas para a segurança pública, o
Planalto se diz obrigado a escolher
entre dar um aumento um pouco
maior para o salário mínimo ou preservar investimentos, também mínimos. E, antes que o incêndio no Rio
possa ser apagado, outro surge no horizonte -ontem, as más notícias já
vieram dos "mercados".
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