|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
O futuro está próximo
SEMPRE associamos o futuro à
idéia do melhor, do avanço da
humanidade a um tempo de
sublimação do corpo e da alma. De
melhores condições de vida e de
realização das virtudes humanas.
Não são raras as associações utópicas de um mundo sem limitações
nem diferenças, a busca da igualdade e, para usar uma síntese antiga,
da fraternidade. O passado vem
sempre concebido como tempo de
vacas magras, e os cantores deste
são tidos como caretas saudosistas.
Prenúncios surgem de que o futuro
está chegando, mas não aquele futuro Eldorado que nos construíram, e sim um tempo que talvez seja um pouco daquilo que o urbanista Doxiadis pensou e resumiu numa palavra, sendo a antítese da
utopia, a distopia (lugar ruim).
Não sou o pessimista a ver catástrofe à frente, mas me preocupo
com os sinais desse tempo antecipado. Fukuda, um excepcional estadista do Japão, tinha uma só obsessão: o perigo da explosão demográfica. Alertava ser este o grande
inimigo da humanidade. Àquela
época, éramos apenas cinco bilhões, hoje somos seis e meio: 20%
são chineses; 17%, indianos.
Essa gigantesca população naquelas regiões asiáticas corresponde hoje, o que não acontecia no
passado, a uma formidável expansão no consumo de alimentos e
bens. Esse fato tem puxado o mundo para uma era de acelerado crescimento. As distâncias são diminuídas pela nova tecnologia dos
transportes, pelo aumento do número e do tamanho dos navios e
aviões, a velocidade destes limitada
pela barreira do som, mas o transporte marítimo e intermodal
(trens), acelerados com a racionalização dos portos e com a técnica de
contêineres. Essa babel é o motor
do atual "boom" econômico.
Um dos problemas que surgem
nesse painel é o dos alimentos. Um
balanço mundial descompensado
faz os preços subirem. Umas regiões aumentam o consumo e outras são excluídas de consumir. A
África está à frente de todas. Ali a
fome é endêmica e não há perspectiva de as coisas mudarem.
Dois movimentos no tabuleiro
mundial alteram o quadro: um, o
preço de fertilizantes e de insumos
agrícolas atrelado ao explosivo aumento do petróleo; outro, a especulação das commodities, que atinge o mercado de alimentos em
geral.
Malthus acreditava que a fome
iria controlar o crescimento populacional. Quando as guerras e as
pestes não cumprissem essa tarefa,
seria a vez da falta de alimentos.
Consumo e preços estariam destinados a uma aliança diabólica para
matar o mundo de fome.
Será que Malthus, depois de um
período de desmoralização, está
voltando ou vamos ter mesmo de
plantar batatas?
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Crônicas contemporâneas Próximo Texto: Frases
Índice
|