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Choque elétrico
A enorme disparidade entre o
preço cobrado pela energia elétrica no Brasil e a qualidade do serviço oferecido ao consumidor ilumina as graves deficiências do setor.
Na semana passada, a Eletropaulo demorou muito além do razoável para restabelecer o fornecimento de luz a centenas de milhares de residências e prédios comerciais em São Paulo.
Parte da cidade ficou às escuras
por quase dois dias, após rajadas
de vento de até 124 km/h. Sem
energia, estações de bombeamento da Sabesp deixaram de atuar, e
570 mil pessoas ficaram sem água.
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB), com uma contundência
incomum na relação entre governantes e concessionárias de serviços públicos, classificou o atendimento prestado como "inaceitável". Disse que a empresa não tem
"condições mínimas" de assistir
aos mais de 6 milhões de clientes
nesses períodos de emergência.
Por mais severas que tenham sido as condições climáticas, elas
não explicam, sozinhas, o acúmulo de problemas e ineficiências a
que os paulistanos se viram sujeitados. São constantes as quedas
de energia na cidade.
Há falhas também no atendimento ao público. A Eletropaulo
não dispõe de um sistema eficaz
de recebimento de reclamações e
tampouco é capaz de informar
com exatidão o tempo necessário
para os reparos.
A privatização da concessionária, efetuada pelo governo do
PSDB no final da década de 1990,
não exime posteriores administrações tucanas do Estado, entre elas
a do próprio Alckmin. Sua reação,
apesar de dura, não diminui a parcela que lhe cabe na responsabilidade pelo péssimo serviço.
A Eletropaulo, premida pelas
críticas, fez um pedido público de
desculpas e prometeu agilizar a
indenização de quem foi prejudicado, talvez 2 milhões de pessoas.
Não faz com isso mais que o mínimo obrigatório.
Não bastasse o fornecimento
precário no caso paulistano, falhas de planejamento no sistema
energético nacional devem elevar
uma tarifa que já é tida como uma
das mais caras do mundo. O atraso na operação de oito termelétricas obrigará o governo federal a
manter o nível dos reservatórios
hidrelétricos acima do previsto.
O custo adicional da medida,
estimado entre R$ 250 milhões e
R$ 300 milhões, será mais uma
vez repassado ao consumidor.
Cabe ao poder público, estadual e federal, por meio das agências reguladoras, impor às empresas as "condições mínimas" agora
reclamadas por Alckmin. Já passa
da hora de dar um choque de qualidade no setor elétrico.
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