São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Mundo cão

BRASÍLIA - Na Bolívia, um "líder cocaleiro" disputa o segundo turno das eleições presidenciais. Ou seja: Sua Exª., o candidato, é defensor dos plantadores de coca, matéria-prima da cocaína.
No Paraguai, protestos se multiplicam nas fronteiras com o Brasil, onde o ex-golpista Lino Oviedo aguarda visto como "pesquisador de agricultura no cerrado". O país está em estado de emergência.
Na Venezuela, a guerra civil corre solta, com uma versão mambembe do "Muro de Berlim" entre as manifestações pró-Chávez e anti-Chávez.
Na Argentina, à crise econômica aparentemente sem saída soma-se agora a pior ameaça política: o ex-presidente Carlos Menem se lança à Presidência com a bandeira da dolarização. E ele é a origem do mal.
Na Colômbia, continua tudo na mesma: ninguém sabe até onde vai o Estado, até onde vão os narcotraficantes e até onde vão, cada vez mais, os Estados Unidos.
Mas a América Latina não está sozinha. Nos EUA, George W. Bush foi empossado depois de uma eleição duvidosa, passou pelo maior atentado ao coração do país, bombardeou o Afeganistão sem capturar Bin Laden, encheu o gabinete de empresários poderosos e convive com os maiores escândalos empresariais do planeta.
Depois do vexame da quebra da Enron e da WorldCom, vem a denúncia de que, em 1990, como filho do então presidente Bush, o "little" Bush se valeu de informações privilegiadas para vender ações de uma empresa dois meses antes que ela quebrasse. Nos EUA, é crime federal.
Para consolo (seria consolo?!), a Europa também não está lá essas coisas. Depois de levar o líder direitista Le Pen ao segundo turno na França, país símbolo internacional de democracia, os neonazistas praticam atentados contra o presidente Chirac!
Se alguém anda querendo fugir da guerra no Rio, do crime organizado no Espírito Santo, dos sequestros em São Paulo e da corrupção endêmica, não tem muito para onde correr. A não ser que seja para o Afeganistão. Ou para o que ainda sobra dele.



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