|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLÍNIO FRAGA
São Paulo não pode parar
RIO DE JANEIRO - Na comemoração do aniversário de São Paulo
de dois anos atrás, um grupo de cariocas estampou em uma camiseta
o cumprimento debochado do balneário à metrópole: "Parabéns, São
Paulo, por seus 450... km de distância". Mas nunca Rio e São Paulo estiveram tão próximos como agora
na inoperância, na incompetência e
na desfaçatez mesmo das autoridades que deveriam cuidar da segurança pública e não o fazem.
Este não é um texto para ser impresso com bílis, como a nós jornalistas sempre parece necessário.
Um amigo certa feita elogiou a
agressividade literária de uma talentosa autora dizendo que ela escreve com bílis. Em tempos obscuros, a candura talvez seja o caminho
mais curto para a alienação.
Com certeza os jornais estão
cheios de linhas amargas, dessas
necessárias para apreender o real
de um país subdesenvolvido, desnorteado, esgarçado em seu berço
frêmito.
Mas hoje é domingo. Vai daqui o
desejo de um dia tranqüilo para o
paulistano, para contraditoriamente insistir que São Paulo não pode
parar. Não pode parar de tentar encontrar algum quinhão de alegria,
felicidade, beleza, cordialidade, esperança. Que seja um domingo em
que se respire fundo, sem se importar com a qualidade do ar, e se ganhe fôlego para não deixar que eles
-os bandidos, os corruptos, os incompetentes, os omissos- vençam.
Como escreveu Quintana: "Bem
melhor é aquele que não passa, talvez, de um desejo ilusório. Nunca
me dê o céu. Quero é sonhar com
ele na inquietação feliz do purgatório".
Se as mazelas à volta não cessarão
num piscar de olhos, que este pé de
página seja o voto simples de um
bom domingo!
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: "Duas cidades" Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Canelinhas de Ouro Índice
|