São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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PLÍNIO FRAGA

São Paulo não pode parar

RIO DE JANEIRO - Na comemoração do aniversário de São Paulo de dois anos atrás, um grupo de cariocas estampou em uma camiseta o cumprimento debochado do balneário à metrópole: "Parabéns, São Paulo, por seus 450... km de distância". Mas nunca Rio e São Paulo estiveram tão próximos como agora na inoperância, na incompetência e na desfaçatez mesmo das autoridades que deveriam cuidar da segurança pública e não o fazem.
Este não é um texto para ser impresso com bílis, como a nós jornalistas sempre parece necessário. Um amigo certa feita elogiou a agressividade literária de uma talentosa autora dizendo que ela escreve com bílis. Em tempos obscuros, a candura talvez seja o caminho mais curto para a alienação.
Com certeza os jornais estão cheios de linhas amargas, dessas necessárias para apreender o real de um país subdesenvolvido, desnorteado, esgarçado em seu berço frêmito.
Mas hoje é domingo. Vai daqui o desejo de um dia tranqüilo para o paulistano, para contraditoriamente insistir que São Paulo não pode parar. Não pode parar de tentar encontrar algum quinhão de alegria, felicidade, beleza, cordialidade, esperança. Que seja um domingo em que se respire fundo, sem se importar com a qualidade do ar, e se ganhe fôlego para não deixar que eles -os bandidos, os corruptos, os incompetentes, os omissos- vençam.
Como escreveu Quintana: "Bem melhor é aquele que não passa, talvez, de um desejo ilusório. Nunca me dê o céu. Quero é sonhar com ele na inquietação feliz do purgatório".
Se as mazelas à volta não cessarão num piscar de olhos, que este pé de página seja o voto simples de um bom domingo!


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