São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

A safra e os preços

CERCA DE 2/3 do aumento da taxa de inflação deve-se à elevação dos preços dos alimentos e da energia, impulsionados por desequilíbrios no mercado internacional. Somos hoje uma economia "aberta" e nossos produtores e consumidores podem exportar ou importar livremente seus produtos.
Essa integração com a economia mundial foi extremamente benéfica: aumentou as oportunidades de comércio e a produtividade, fatores indispensáveis para a aceleração do desenvolvimento econômico. Ela, entretanto, tem uma contrapartida. Nossos preços internos passaram a depender muito pouco da oferta e demanda internas. Os preços da soja, do milho, do trigo, do arroz, por exemplo, são "formados" no mercado internacional desses produtos em função das demandas e ofertas "globais" e são internalizados através da nossa taxa cambial. Por outro lado, a livre movimentação dos produtos exportáveis e importáveis e seus preços internacionais (que são dados) são fatores importantes na determinação da própria taxa de câmbio, o que consagra a integração da economia brasileira à economia internacional.
Neste mês de julho praticamente encerrou-se o ano agrícola de 2007/08, com resultados muito satisfatórios: tivemos um aumento da safra de grãos de 8,1% (de 131,8 para 142,2 milhões de toneladas), com um aumento da área plantada de apenas 2,1% (de 46,2 para 47,2 milhões de hectares). O crescimento médio da produção/ha de 5,9% (2.851 para 3019 kg/ha) revela não apenas a mudança estrutural, mas também o uso de técnicas e insumos modernos. Apesar disso não se deve esperar efeito de grande monta sobre os preços internos, a não ser que recuem os preços externos e não aumente a já desastrosa "super" valorização cambial.
Talvez haja efeito no preço do feijão, importante produto da dieta do brasileiro, porque ele não tem um mercado internacional organizado. Na primeira safra (colhida em janeiro e fevereiro), a produção de feijão foi um desastre (queda de 20%, como resposta aos preços baixos da safra anterior e a efeitos climáticos), o que produziu um aumento espetacular de seus preços. Na produção total (três safras), o feijão registra um aumento de 2,3%, a menor taxa entre os grãos.
Uma forma eficaz de ajudar no combate à inflação é estimular a produção dos alimentos cujos preços dependem da oferta e procura internas, como é o caso do feijão, do peixe, do tomate e das hortaliças, por exemplo, mas parece que ainda não acordamos para isso...

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ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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