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EFEITO ASPIRINA
Depois de ter oferecido à indústria automotiva um desconto na cobrança do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI), a
área econômica do governo passou a
ter que responder a uma questão espinhosa: por que não fazer o mesmo
com os demais ramos da produção?
De fato, embora a indústria de veículos seja uma das mais dinâmicas do
país, ela não é o único setor expressivo da atividade produtiva, tampouco
é o único a sofrer os efeitos da atual
situação econômica.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) viu na decisão do governo uma oportunidade
para reivindicar tratamento análogo
para outras áreas. Depois de um encontro com o ministro Antonio Palocci para tratar do tema, o presidente da entidade, Horácio Piva, declarou que a Fazenda estaria disposta a
apoiar "qualquer setor que possa gerar um pouco de consumo por uma
ponta e emprego pela outra".
Ainda que caiba ao governo fazer o
que está ao seu alcance para minimizar as dificuldades do quadro restritivo, essas concessões tributárias não
parecem se enquadrar numa política
organizada, com critérios transparentes e contrapartidas claras e convincentes. Além de produzir efeitos
superficiais diante da gravidade do
quadro -trata-se de uma "aspirina", como disse o ministro Furlan,
do Desenvolvimento- esse tipo de
apoio parece estar sendo decidido ao
sabor das pressões e dos lobbies.
Sendo assim, os mais fortes e mais
influentes seriam os principais candidatos a receber as benesses governamentais.
Não será, certamente, com uma
colcha de retalhos de benefícios fiscais transitórios que a indústria irá
superar suas dificuldades. Os jornais
de ontem trouxeram novos dados do
IBGE que demonstram a gravidade
da crise. Há um consenso no setor
sobre a timidez com que as autoridades econômicas vêm adotando as
medidas para a retomada da atividade. Parece faltar no governo de Luiz
Inácio Lula da Silva maior determinação para apostar no crescimento.
Até aqui, na área econômica, têm
triunfado a cautela e o medo, enquanto desvanece a esperança.
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