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CARLOS HEITOR CONY
Um pouco do Joel
RIO DE JANEIRO - Joel Magno
Ribeiro Silveira, mais conhecido
pelo codinome de Joel Silveira, ganhou o Prêmio Machado de Assis
da Academia Brasileira de Letras, a
mais consagrada láurea da literatura brasileira.
Sua obra inclui vários gêneros, da
reportagem ao conto e à novela.
Mestre de várias gerações, ele é modelo para os jornalistas, que nele
encontram uma referência de dignidade profissional e de eficiente
manejo da técnica literária, seja ela
aplicada à reportagem ou à ficção.
Ao lado de tudo isso, Joel é um ser
humano rico e saboroso. Quando
completou 60 anos, escrevi-lhe
uma sonata que ele aproveitou como prefácio da primeira edição de
um de seus livros, "Tempo de Contar". Lembrei um fim de noite, em
seu apartamento, ao lado de sua
mulher, Iracema, famosa fazedora
de pastéis de camarão. Eu havia
chegado de viagem, trazia-lhe discos antigos de música italiana, canções do tempo da guerra que ele havia coberto, em gravações originais,
catimbadas em sebos de Roma.
Joel bebeu algumas doses de uísque, equilibrou o copo na cabeça e
começou a dançar de olhos fechados: "Sul'Arno d'argento specchia il
firmamento".
Seu colega na cobertura da FEB,
Egydio Squeff, havia morrido um
mês antes. No meio da sala, dançando com o copo na cabeça, Joel pedia
a Iracema: "Telefona para o
Squeff... ele não aparece mais... arranjei um disco do "Dorme Firenze
dorme" com o Alberto Rabagliatti...
telefona Iracema... pede para ele vir
depressa... chama o Nássara também, estou com saudades...".
Deixei-o dormindo no sofá, sonhando com o Arno prateado pela
lua e esperando pelos amigos que
não chegavam mais.
(Esta crônica é de agosto de 1998.
Foi publicada na "Manchete", revista na qual trabalhamos alguns
anos).
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