São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Descasou ou casou só no papel?

SANTANDER - Atravessar o "charco" (como os espanhóis às vezes se referem ao oceano Atlântico) foi como mudar os sinais vitais. Saí do Brasil com a informação, por exemplo, de que o volume de vendas do comércio subira 10,6% no primeiro semestre em relação a idêntico período do ano anterior, na maior expansão semestral desde que o índice começou a ser elaborado, em 2001.
Desembarquei na Espanha com a informação de que a eurozona (formada pelos 15 países que adotam o euro como moeda) conheceu o primeiro recuo em sua economia desde que uniformizou critérios para medir o desempenho econômico, faz já 13 anos.
É desnecessário dizer que, se as vendas do comércio continuam bombando, é porque os consumidores mantêm elevada a sua confiança. Aqui, relata o jornal espanhol "El País", "os índices de confiança do consumidor e da indústria européia estão no chão".
Some-se o Japão, também embicando para a recessão, e constate-se a ironia de que os Estados Unidos, epicentro original da crise, ainda conseguiram crescer algo no segundo trimestre, em vez de retroceder como a eurozona, e pronto, tem-se o cenário feito para jurar que ocorreu de fato o tal "decoupling" -o descasamento entre ricos e emergentes.
Aí vêm os chatos do "Financial Times" para informar que não é bem assim, ao menos no mercado financeiro: o índice S&P 500 (EUA) caiu menos neste ano (12%) do que as Bolsas de Brasil (-15%), Rússia e Índia (mais de 20% de queda) e os "gritantes" 54% da China.
Mais: a redução do déficit comercial dos EUA vai provocar o encolhimento do saldo em outros países, especialmente China (e o Brasil?).
Conclusão: "Você pode acreditar na globalização ou em descasamento, mas não em ambos". Escolha a sua crença, porque os sábios cada vez sabem menos.

crossi@uol.com.br


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