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LUIZ FERNANDO VIANNA
Ausências
RIO DE JANEIRO - Questionado
sobre as motivações dos seminários
"O Silêncio dos Intelectuais", realizado em 2005, e "O Esquecimento
da Política", que está acontecendo
agora, Adauto Novaes sempre explicou que não estava organizando
eventos para se falar do Brasil de
hoje, mas para se pensar um mundo
em profunda transformação, do
qual as antigas muletas de reflexão
já não dão conta.
"Já se disse que a imagem de um
caos é um caos, e que, ao voltarmos
o olhar para essa imagem, muitas
vezes nossa reflexão tende a tornar-se mais perturbadora ainda", escreveu ele na apresentação de "O Esquecimento da Política".
Olhar o mundo de hoje é sofrer
com uma paisagem turva. Não só as
frases feitas das ideologias de cabeceira se esfarelaram como as palavras em geral perderam a credibilidade. Se o presidente da maior potência do planeta manda invadir
outro país com base em uma mentira, de que servem os discursos?
A ausência de pensamentos políticos, econômicos e filosóficos,
substituídos por modelos de discutível eficiência técnica, fere nossos
projetos de cidadão e nossa condição de animais racionais. Sem mais
saber como mudar o mundo ou
mesmo reformá-lo, basta-nos não
sermos esmagados.
Há aves emplumadas que enchem o bico para reclamar que Lula
será reeleito pelos "desinformados", os assistidos pelo Bolsa-Família, os miseráveis, mas não vêem como contribuem para que o jogo sociopolítico se limite a um prato de
comida. Antes ele cheio do que um
tacho de idéias vazias.
E a anorexia da vida pública encolhe os sentidos da vida pessoal,
pois faltam esperança, justiça, força
para estar inteiro na realidade turva. Se é perdoável a digressão, há
ausência maior do que passar o aniversário do filho, num sábado, a três
oceanos de distância dele?
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