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KENNETH MAXWELL
Pronto para brilhar?
Hoje é o bicentenário da Revolução Mexicana. Duzentos
anos atrás, em 16 de setembro
de 1810, na aldeia de Dolores,
Estado de Guanajuanato, o
padre local, Miguel de Hidalgo, lançou seu famoso "grito
de la independencia", que
mobilizou a população indígena e mestiça pobre da mais importante colônia espanhola
do Novo Mundo em um levante contra a elite branca dominante, formada por descendentes de espanhóis.
A revolta não demorou a ser
reprimida. Hidalgo foi capturado e executado. Sua cabeça
decepada foi colocada em exibição, pendurada num paiol
de grãos em Guanajuanato,
onde centenas de pessoas que
procuravam refúgio contra os
rebeldes de Hidalgo haviam
sido massacradas.
A independência do México
só foi obtida em 1821. E, mesmo assim, a estabilidade se
provou difícil de conquistar.
Daqui a algumas semanas,
o México celebrará o centenário da revolução de 1910, outro
sangrento período de conflitos
e guerra civil. Quanto a isso, a
história mexicana oferece forte contraste com a do Brasil.
A chegada do príncipe regente, de sua mãe louca e da
família real à Bahia, no final
de 1807, seguida pelo estabelecimento da corte portuguesa
no Rio de Janeiro, um ano
mais tarde, deu continuidade
e estabilidade ao Brasil, evitou
disputas quanto à legitimidade e salvou o país dos sangrentos tumultos e dos conflitos étnicos e sociais que caracterizaram com tamanha intensidade as primeiras décadas de
independência da América
espanhola.
É curioso, portanto, que,
neste momento de celebração,
o ex-ministro do Exterior mexicano Jorge Castañeda, agora
professor da Universidade de
Nova York, tenha publicado
um artigo na edição de setembro/outubro da revista "Foreign Affairs" no qual afirma
que o Brasil (bem como China,
Índia e África do Sul) não estão "prontos para brilhar".
Ele argumenta que "colocar
potências emergentes no leme
pode prejudicar a governança
mundial".
Castañeda critica o Brasil
por não respeitar os direitos
humanos em sua política externa. Menciona a posição
brasileira quanto a Cuba e Venezuela. Alega que o Brasil
"não merece confiança no que
tange à não proliferação nuclear". Acrescenta que "há
quem especule que o Brasil esteja preparando as bases para
retomar o seu programa nuclear". Afirma que há contradições na abordagem do Brasil quanto à poluição.
A política externa não teve
papel importante nesta campanha presidencial. Mas essas
declarações apontam para
alguns dos dilemas reais que o
novo governo brasileiro precisará enfrentar no ano que
vem.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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