São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

KENNETH MAXWELL

Pronto para brilhar?

Hoje é o bicentenário da Revolução Mexicana. Duzentos anos atrás, em 16 de setembro de 1810, na aldeia de Dolores, Estado de Guanajuanato, o padre local, Miguel de Hidalgo, lançou seu famoso "grito de la independencia", que mobilizou a população indígena e mestiça pobre da mais importante colônia espanhola do Novo Mundo em um levante contra a elite branca dominante, formada por descendentes de espanhóis.
A revolta não demorou a ser reprimida. Hidalgo foi capturado e executado. Sua cabeça decepada foi colocada em exibição, pendurada num paiol de grãos em Guanajuanato, onde centenas de pessoas que procuravam refúgio contra os rebeldes de Hidalgo haviam sido massacradas.
A independência do México só foi obtida em 1821. E, mesmo assim, a estabilidade se provou difícil de conquistar.
Daqui a algumas semanas, o México celebrará o centenário da revolução de 1910, outro sangrento período de conflitos e guerra civil. Quanto a isso, a história mexicana oferece forte contraste com a do Brasil.
A chegada do príncipe regente, de sua mãe louca e da família real à Bahia, no final de 1807, seguida pelo estabelecimento da corte portuguesa no Rio de Janeiro, um ano mais tarde, deu continuidade e estabilidade ao Brasil, evitou disputas quanto à legitimidade e salvou o país dos sangrentos tumultos e dos conflitos étnicos e sociais que caracterizaram com tamanha intensidade as primeiras décadas de independência da América espanhola.
É curioso, portanto, que, neste momento de celebração, o ex-ministro do Exterior mexicano Jorge Castañeda, agora professor da Universidade de Nova York, tenha publicado um artigo na edição de setembro/outubro da revista "Foreign Affairs" no qual afirma que o Brasil (bem como China, Índia e África do Sul) não estão "prontos para brilhar".
Ele argumenta que "colocar potências emergentes no leme pode prejudicar a governança mundial".
Castañeda critica o Brasil por não respeitar os direitos humanos em sua política externa. Menciona a posição brasileira quanto a Cuba e Venezuela. Alega que o Brasil "não merece confiança no que tange à não proliferação nuclear". Acrescenta que "há quem especule que o Brasil esteja preparando as bases para retomar o seu programa nuclear". Afirma que há contradições na abordagem do Brasil quanto à poluição.
A política externa não teve papel importante nesta campanha presidencial. Mas essas declarações apontam para alguns dos dilemas reais que o novo governo brasileiro precisará enfrentar no ano que vem.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A dúvida e a dívida
Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES
Manoel Félix Cintra Neto e Regina Célia Esteves de Siqueira: Ruth Cardoso - passado, presente e futuro

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.