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ALCA OU ANTÁRTIDA
A "boutade" do chefe do escritório de comércio norte-americano, Robert Zoellick, sobre a adesão
do Brasil à Alca deve ser entendida
como uma provocação. No jornal
"The Miami Herald", Zoellick afirmou que, se uma eventual administração Lula quiser "tomar o rumo
sul, para a Antártida, nós olharemos
para o leste e para o oeste." Trata-se
de uma alusão a uma conhecida profecia que diz que, se o Brasil não quiser a Alca, ficará em posição isolada
no continente. É saudável proceder a
uma análise crítica dessa tese.
Relações de comércio também são,
como ilustra o comportamento
agressivo do representante norte-americano, disputas de poder. Acordos comerciais desequilibrados
transferem riqueza de um país a outro. É evidente que, nas tratativas da
Alca, o poder negociador dos americanos é bem maior que o dos brasileiros. O contexto de crise financeira
no Brasil amplia essa diferença.
Mas seria simplismo concluir, a
partir daí, que o Brasil só tem a perder numa negociação com os EUA
ou que mesmo uma Alca que contrarie os interesses do Brasil é inevitável.
Na hipótese de os americanos aceitarem, no âmbito da Alca, desfazer seu
protecionismo não-tarifário, um
acordo com os EUA pode começar a
interessar ao Brasil. Esse é o centro
da questão, que tanto o programa de
governo de Luiz Inácio Lula da Silva
quanto o de José Serra reconhecem.
Há constrangimentos enormes para que os americanos aceitem incluir
esse tema nas negociações da Alca, a
começar do mandato restritivo que o
Congresso dos EUA concedeu a
Bush para negociar acordos comerciais. Mas o Brasil, que assume a presidência da Alca com os EUA em novembro, deve insistir nesse ponto
nas reuniões que virão.
Clareza de propósitos, pragmatismo, paciência e progressiva ampliação da relação com outros parceiros
comerciais de peso que não os americanos são elementos-chave para
que o Brasil não seja atropelado na
Alca, o que, afinal, complicaria ainda
mais a nossa capacidade de honrar
compromissos externos.
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